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Exportador volta ao mercado interno

Empresas querem aproveitar demanda aquecida para compensar as perdas provocadas pela queda do dólar

Por Marcelo Rehder
Atualização:

Boa parte das indústrias brasileiras que hoje destinam 100% do que produzem para exportação já tem plano de lançar produtos no mercado interno. Elas querem aproveitar a demanda doméstica aquecida para compensar parte da perda de receitas nas vendas externas decorrente do enfraquecimento do dólar frente ao real. Para as indústrias exportadoras, não há perspectivas de mudança no câmbio. A não ser que o desempenho da economia mundial mude ou o governo brasileiro adote medidas para tentar conter a trajetória de queda da moeda americana. No planejamento estratégico para 2008, muitas empresas trabalham com a cotação atual, na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,80, como teto para a taxa de câmbio. "Infelizmente, não vemos nenhuma perspectiva de melhora no câmbio", diz Álvaro Weiss, presidente da Artefama, maior exportadora de móveis do País. Sua empresa trabalha com dólar de equilíbrio entre R$ 1,65 e R$ 1,70 para o próximo ano. Além de buscar estratégias para reforçar as exportações para países que pagam em euros, como França, Holanda e Alemanha, a empresa pretende lançar em 2008 uma linha de móveis com design exclusivo para o mercado interno. "As pesquisas já estão em andamento e estamos participando de algumas feiras no País para ver como está o mercado." Hoje, a Artefama produz para exportar, mas a idéia é destinar ao menos 20% para o consumo doméstico até dezembro do ano que vem. Com isso, a empresa reduz o risco cambial e também passará a usar os créditos da exportação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no que vender para o mercado interno. Na HVM do Brasil, que exporta 98% dos componentes para iluminação em néon que produz, os planos são parecidos. "Estamos desenvolvendo novos produtos para o mercado interno, que serão lançados no ano que vem", diz o presidente da empresa, Mauritius Dubnitz. "É mais uma saída que estamos buscando para compensar um pouco a perda econômica em função da valorização abrupta do real." Para a Linifício Leslie, única fabricante de fios e tecidos de linho na América do Sul, a substituição de parte da produção por importação de fios de linho da China foi um dos caminhos para reduzir os efeitos negativos da valorização do câmbio. Hoje, um terço dos fios de linho usados para confecção dos seus tecidos são importados do país asiático. "Nossa empresa atua há 40 anos no mercado externo e nunca passamos por um período com a moeda tão valorizada", queixa-se a presidente da empresa, Elizabeth Leslie. Segundo ela, nos últimos três anos a empresa conseguiu emplacar três aumentos de preços em dólar, totalizando 45,5% de alta. "Agora, não há mais espaço para novos aumentos." Maior exportadora brasileira de equipamentos para transmissão e distribuição de energia, a Cerâmica Santa Terezinha é outra empresa que tem reforçado as vendas internas em substituição a exportações. O mercado doméstico já respondem por quase 80% das vendas da empresa este ano, contra 60% em 2005. "O problema é que o mercado nacional ainda não tem capacidade de absorver todos os produtos que deixamos de vender lá fora", diz o presidente da empresa, Humberto Barbato. Para evitar o acúmulo de estoques indesejados, a empresa planeja dar férias coletivas para os 450 empregados de sua fábrica entre dezembro e janeiro. Em 50 anos, esta será a primeira vez que a empresa paralisa sua produção nessa época do ano.

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