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Exposição a derivativos cai à metade: US$ 20 bi

Segundo a Cetip, 500 empresas fazem esse tipo de operação

Por Adriana Chiarini
Atualização:

Em pouco menos de um mês as empresas brasileiras reduziram à metade o risco representado por operações em derivativos cambiais. De acordo com levantamento da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip), em 30 de setembro as posições das empresas vendidas em dólar ­- em todos os tipos de derivativos e todos os prazos de vencimento - somavam US$ 40 bilhões para até 90 dias subseqüentes. No último dia 24, esse total havia caído para US$ 20 bilhões. A quantidade de empresas que operam derivativos cambiais está em torno de 500. Mas, "entre as grandes empresas, só duas ou três tiveram problemas", informou à Agência Estado Jorge Santa?Anna, diretor de Relações com os Participantes da Cetip. A entidade foi criada em 1986 pelas instituições financeiras e pelo Banco Central para administrar mercados de balcão onde são negociados registros de valores mobiliários, títulos públicos e privados de renda fixa, além de derivativos. Sant?Anna confirmou que as únicas grandes perdas constatadas se referem às operações já divulgadas de Aracruz, Votorantim e Sadia, sendo que "praticamente todas as operações da Sadia foram no exterior", não registradas na Cetip. "Não vejo mais nenhuma grande empresa com problema", afirmou. As divulgações de perdas, feitas por iniciativa das próprias companhias, teriam deflagrado um movimento no mercado de não renovação de operações de derivativos - nas quais as empresas "compram" posições futuras em dólar apostando numa determinada cotação. No caso das três perdedoras, a estimativa era de que o real permaneceria apreciado em relação ao dólar. Em duas semanas de crise, o real sofreu desvalorização de mais de 30%. Sant?Anna explicou, porém, que os totais registrados pela Cetip em operações de derivativos compõem o que é conhecido no jargão técnico como valores "nocionais" (valor de referência das apostas). Não correspondem, portanto, ao que deve ser pago de fato pelas empresas. Essas diferenças a pagar são classificadas por ele de "ajustes" e não perdas. O diretor estima, com base nas taxas de câmbio de cada data, que os "ajustes" máximos possíveis eram de US$ 12 bilhões em 30 de setembro e de US$ 6 bilhões em 24 de outubro. Segundo ele, a crise financeira não provocou elevação no nível de inadimplência nesse tipo de operação, apenas "uma ou outra empresa (de menor porte) ficou inadimplente". Mas está ocorrendo negociação entre bancos, que querem antecipar os recursos para garantir o pagamento de operações, e empresas, que preferem esperar pela data de vencimento, convencidas de que a ação do dólar voltará à normalidade. Boa parte dessas negociações é referente às exigências de margens dos bancos, para cobrir variações para cima na cotação do dólar. Ou seja, os financiadores por vezes requisitam o depósito da diferença, como uma caução, antes da data de conclusão da operação. "As empresas estão dizendo que não vão pagar agora porque lá na frente vão ganhar", disse. "Não é que a empresa não queira pagar, é que se o dólar vai cair à frente, no vencimento, ela está pagando hoje o que não tem que pagar", disse. Nesse contexto, quem é suscetível a grandes perdas seriam as grandes exportadoras, por terem maior crédito. Na visão de Sant?Anna, é o caso da Aracruz, que estaria discutindo as margens com o banco, antes do vencimento. "As operações não fecharam. Estão discutindo o ajuste com os bancos", disse. Sant?Anna não chega a descartar o risco, nem a declarar que a situação não seja preocupante, mas destaca o exagero e desinformação em torno da questão dos derivativos cambiais. "Não é que não seja ruim, mas não é o subprime brasileiro", afirma. Na sua avaliação, "as empresas estão indo bem, obrigado". Mas admite que algumas erraram. "Houve falta de gestão de risco, o que é muito diferente de fraude, como houve no subprime." "Perda é muito complexo analisar. É leviano dizer: ?está tudo estourado? ou ?está tudo bom?. O tamanho não é do jeito que estão falando. Tem gente importante fazendo conta utilizando o ?nocional? como perda. Para perder o ?nocional?, só se houver 100% de desvalorização do ativo. Se comprou a R$ 1,70, só perde todo o valor ?nocional? se o dólar for a R$ 3,40", afirmou. Ele comentou que "muita gente está falando coisa errada" e deu um exemplo simplificado para facilitar a compreensão de valor "nocional" e ajuste. "Se vendo US$ 10 milhões a R$ 1,70 e o dólar vai a R$ 1,80, vou pagar só R$ 1 milhão, que é o ajuste. Os US$ 10 milhões são o valor ?nocional?", disse, ressaltando que apenas a diferença entre a cotação estimada e a realizada é o valor a pagar.

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