Quando o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, vazou a jornalistas a mais recente decisão sobre a taxa básica de juros, que seria divulgada oficialmente apenas no fim do mesmo dia, choveram críticas sobre uma possível interferência política e questionamentos sobre a independência do Banco Central mexicano (Banxico), desde janeiro comandado por uma mulher pela primeira vez na sua história.
Logo em seguida, López Obrador pediu desculpas e reiterou o respeito à independência do BC mexicano, mas Victoria Rodriguez, a presidente do Banxico, teve de vir a público reafirmar repetidamente a sua autonomia. Aliás, essa não foi a primeira vez que ela teve de enfrentar críticas.
Quando foi nomeada por López Obrador, substituindo de última hora o candidato original do presidente mexicano para o cargo, Rodriguez teve posta em dúvida a sua capacidade para chefiar um dos principais BCs da América Latina. O jornal inglês Financial Times chamou Rodriguez de “obscura economista do setor público” no mesmo artigo sobre o pedido de desculpas de López Obrador.
Quantos homens com estofo acadêmico ou currículos nem um pouco brilhantes alçaram o posto de banqueiro central de economias importantes que não sofreram o mesmo escrutínio que a atual presidente do Banxico?
É cada vez crescente o número de mulheres que está furando o “clube do Bolinha” e comandando bancos centrais. Desde fevereiro, Rosanna Costa comanda o BC do Chile, outra grande economia da região. Ao contrário de Rodriguez, no México, Costa não teve a sua nomeação questionada, uma vez que ela já era uma das diretoras da instituição. Na América Latina, mulheres também estão à frente dos BCs de Cuba, Aruba e Ilhas Cayman.
No México, o Banxico elevou os juros em 0,50 ponto porcentual para 6,50%, e Rodriguez deu um recado duro ao dizer que fará o que for necessário para atingir a meta de inflação. No Chile, o BC ajustou a taxa básica em 1,50 ponto, para 7%, mas frustrou o mercado, que esperava alta de 2 pontos.
O trabalho de Rodriguez e Costa está particularmente difícil em razão da elevada inflação nos dois países. No México, o índice de preços ao consumidor atingiu a taxa anual de 7,29% na primeira quinzena de março, bem acima da meta de inflação de 3%. No Chile, com meta também de 3%, a inflação anual foi de 7,81% em fevereiro.
Domar a inflação é uma tarefa árdua independentemente de gênero e até a renomada economista Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, está sofrendo para combater a disparada nos preços.
* COLUNISTA DO BROADCAST