11 de maio de 2022 | 04h00
Surpresas positivas dos recentes indicadores de atividade levaram grande parte dos economistas brasileiros a surfar uma nova onda de otimismo, revisando significativamente para cima suas projeções de desempenho do PIB em 2022, inclusive com estimativas melhores para a taxa de desemprego.
Mas, com a inflação rodando em mais de 10% e a taxa Selic devendo superar 13%, até quando os indicadores de atividade vão seguir surpreendendo para cima?
Em outras palavras, esse otimismo recente tem vida longa? Poderá resistir ao aumento da inadimplência das famílias brasileiras quando o efeito integral do aperto monetário em curso pelo Banco Central for sentido na economia real?
Na primeira pesquisa Focus publicada neste ano, o consenso das projeções do PIB em 2022 apontava para um crescimento de 0,36%. Em pouco mais de quatro meses, a maioria das estimativas migrou para 0,8%, mas, nos últimos dias, muitos economistas passaram a prever alta de 1% ou mais do PIB neste ano.
Foi o caso do Bradesco, que elevou sua projeção de crescimento do PIB em 2022 de 1,0% para 1,5%. Na semana passada, o banco Barclays passou a prever expansão de 1,0% (de 0,3% anteriormente) do PIB neste ano.
Os dados mais recentes de atividade referentes ao primeiro trimestre turbinaram as expectativas dos analistas. Entre os indicadores, os do mercado de trabalho apresentaram melhora surpreendente.
A taxa de desemprego ficou em 11,1% no trimestre encerrado em março, abaixo do que previam os analistas, de 11,4%, e bem menor do que os 14,9% no auge do impacto da pandemia de covid em 2020.
Aliás, é comum o desemprego aumentar no primeiro trimestre do ano em razão do fim dos empregos temporários para as festas de final de ano. Mas a reabertura da economia, com o controle da pandemia, vem contribuindo para o aumento nas contratações pelas empresas.
É inegável que a fotografia de curto prazo da economia brasileira tornou-se mais animadora. Não à toa, os índices de confiança do consumidor e do empresário melhoraram em abril. Todavia, os fundamentos de médio e longo prazos da economia brasileira ainda não são robustos o suficiente para levar a um crescimento sustentado do investimento.
O risco fiscal segue preocupante. Quem vai investir em ampliação de produção sem ter a menor ideia de como será a política econômica a partir de 2023, seja quem vencer a eleição presidencial?
Sem uma nova âncora fiscal para substituir o cambaleante teto de gastos, o mais provável é haver apenas surtos temporários de otimismo como o que estamos vendo agora.
* COLUNISTA DO BROADCAST
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