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Professor de Finanças da FGV-SP

A divergência nas classificações ESG introduz incerteza na hora de tomar uma decisão

Essas classificações influenciam cada vez mais as decisões financeiras em ESG, trazendo efeitos de longo alcance sobre os preços dos ativos

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Por Fabio Gallo
Atualização:

O investimento com preocupação ambiental, social e governança (ESG) passou de algo idealizado e está se tornando o tipo dominante nos investimentos. Em 2021, as entradas de recursos em fundos ESG foram gigantescas. Os ativos sob gestão devem atingir US$ 41 trilhões até o final deste ano, segundo a Bloomberg Intelligence. 

O crescimento é liderado pelos Estados Unidos, ultrapassando a Europa, que esteve historicamente na vanguarda. Os ativos relacionados a ESG representam um em cada três dólares administrados globalmente, estima a Global Sustainable Investment Association. Com a ascensão desses investimentos, dúvidas sobre sua credibilidade também aumentaram. Céticos dão muitos exemplos de greenwashing – para se referir a empresas que se declaram praticantes de condutas ESG, mas na realidade é algo retórico para sua promoção. 

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Reuters - 28/10/2021

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A busca de maior transparência deve aumentar e deixar mais claro para o investidor o investimento em práticas ESG. Segundo a Morningstar Inc, na Europa os reguladores estão impondo regras mais rígidas para definir o que pode ser rotulado como um fundo sustentável. A nova classificação resultou na remoção de mais de 1.000 fundos europeus do universo sustentável. Cada vez mais os investidores estão confiando em ratings ESG para obter uma avaliação independente sobre as práticas das corporações. Essas classificações influenciam cada vez mais as decisões financeiras em ESG, trazendo efeitos de longo alcance sobre os preços dos ativos e políticas corporativas. 

Como demonstrado no artigo Confusão agregada: a divergência das classificações ESG, de Florian Berg (MIT) e outros, revisado em 2022, com base nos ratings de seis avaliadores (KLD, Sustainalytics, Moody’s ESG, S&P Global, Refinitiv e MSCI), as classificações discordam substancialmente, e esse desacordo traz consequências importantes. Primeiro, dificulta a avaliação do desempenho ESG de empresas, fundos e carteiras, justamente o seu objetivo principal. Segundo, diminui os incentivos às empresas buscarem melhorar seu desempenho, podendo levar ao subinvestimento em atividades de melhoria ESG. Terceiro, dispersa o efeito do desempenho ESG sobre os preços dos ativos. Quarto, mostra que é difícil vincular a remuneração do CEO para o desempenho ESG. Finalmente, a divergência traz um desafio para a pesquisa empírica. 

A divergência de ratings ESG introduz incerteza em qualquer decisão tomada com base nessas classificações e, portanto, representa um desafio para uma ampla gama de tomadores de decisão.

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*PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

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