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Fabricante de motores e de... cristais

Depois de comprar o controle da Oxford Porcelanas, donos da WEG investem na fabricação de copos e taças no interior de SC

Por Naiana Oscar
Atualização:
Artesãos. Um grupo de 50 homens trabalha na Cristaleria Pomerana, em Pomerode (SC) Foto: Gilberto Viegas/Estadão

No centro de Pomerode - uma cidadezinha catarinense com apenas 30 mil habitantes -, está o negócio mais charmoso dos donos da fabricante de motores elétricos WEG, uma das maiores multinacionais brasileiras, com 26 fábricas em nove países e um total de funcionários no mundo que beira o número de moradores do município de colonização alemã.

Na planta de Pomerode, não há engenheiros, jargões em inglês, nem tecnologia de ponta. O trabalho é artesanal, feito por 50 homens e o resultado passa longe dos motores sisudos da WEG: eles produzem delicados copos e taças de cristais.

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"A Cristaleria Pomerana é o charme do nosso portfólio", diz Décio da Silva, filho de um dos três fundadores da WEG, o empresário Eggon João da Silva. De certa forma, é o pai de Décio o "culpado" pela fábrica de cristais. Foi ele que, na década de 80, comprou um punhado de ações da fabricante de porcelanas Oxford, de São Bento do Sul (SC) - na época, era muito mais um negócio entre amigos do que um investimento estratégico.

Hoje, a empresa é um dos negócios controlados pela WPA, companhia que reúne os negócios dos Silva e das famílias de Werner Goigt e Geraldo Werninghaus, os outros dois fundadores da WEG. A holding detém 50,1% da fabricante de motores (o equivalente a R$ 11 bilhões), 3,5% da empresa de alimentos BRF (R$ 1,6 bilhão), além de pequenas centrais hidrelétricas, imóveis e participação em fundos de ações. Portanto, não foi à toa que, em 2013, o trio apareceu na lista de bilionários da revista Forbes.

A meta dessas três famílias catarinenses para a Oxford e seus cristais é tão ambiciosa quanto foi para a WEG. Em dez anos, a fabricante de louças passou de um faturamento de R$ 81 milhões para R$ 170 milhões. Nesse período, a empresa deixou de lado sua vocação exportadora para se dedicar ao mercado interno, onde as vendas saltaram de R$ 36 milhões, para R$ 151 milhões entre 2009 e 2013.

Com uma participação de mercado de 50%, a Oxford se tornou líder nacional no segmento de louças, à frente da Schimidt, que entrou em recuperação judicial em 2008. A empresa tem capacidade para produzir 45 milhões de peças por ano em São Bento do Sul e está construindo uma fábrica no Espírito Santo que vai acrescentar mais 15 milhões a esse total daqui um ano e meio.

"Queremos fazer esse negócio crescer como fizemos com a WEG", disse Décio. Nessa lógica, entram os cristais de Pomerode. Assim como a fabricante de motores cresceu fazendo pequenas aquisições mundo afora, a Oxford também já fez sua investida. Em 2011, a empresa decidiu entregar aos clientes uma linha completa para "pôr a mesa" e viu que faltavam justamente copos e taças.

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A empresa comprou uma fábrica de cristais para decoração, como vasos, e adaptou a produção para copos e taças. Desde que a Oxford assumiu, a produção foi de 1,4 mil para 1,8 mil peças por dia, com troca de máquinas e processos. Ainda assim, os cristais respondem por apenas 2% das vendas da empresa. "É um trabalho artesanal em que dificilmente teremos escala. A ideia era complementar nossa linha e ajudar a preservar essa atividade", diz Irineu Weihermann, presidente da Oxford.

Aos 51 anos, ele se orgulha de ter passado metade da vida na empresa, onde começou como técnico de informática. Engenheiro por formação, Weihermann teve de treinar seu olhar e sua sensibilidade para trocar ideia com designers e especialistas em moda. Em 2013, contratou o badalado designer egípcio Karim Rashid para assinar uma linha de louças.

Seu braço direito para esses assuntos é a filha de Décio, Zaira Zimmerman da Silva, diretora de marketing. Ela está entre os três herdeiros da WEG que trabalham em alguma empresa do grupo. Os demais acompanham os negócios em encontros anuais, que reúnem as quatro gerações. No último, eles foram conhecer a fábrica de Pomerode. "Viram que não é o que nos dá mais dividendos", diz Décio. "Mas virou o xodó da família."

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