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Falhas no PAC podem condenar País à ´mediocridade´, diz <i>FT</i>

Financial Times afirma que investimentos feitos de forma errada podem posicionar o Brasil como um país ´subemergente´, abaixo de Rússia, China e Índia

Por Agencia Estado
Atualização:

O jornal Financial Times publica nesta quinta-feira, 22, um extenso artigo sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega e da Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O diário financeiro britânico questiona se o presidente irá pender mais para a esquerda e afirma que falhas no plano econômico para seu segundo mandato "poderão condenar o Brasil a ficar atrás" de outros grandes países emergentes que compõem o grupo Bric - Rússia, China e Índia. "Nas palavras do chefe de pesquisa do banco WestLB em Nova York, Ricardo Amorim, o Brasil está parecendo mais uma economia subemergente do que uma emergente", disse o jornal. O FT observa que, na avaliação dos principais ministros do governo, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), alicerçado no aumento dos gastos públicos em infra-estrutura, obterá seu objetivo sem prejudicar a estabilidade financeira e econômica. "Nós no governo Lula acreditamos que o trabalho intenso feito ao longo dos últimos quatro anos para criar um ambiente macroeconômico estável nos permite agora buscar um crescimento econômico mais rápido", disse Rousseff, que segundo o FT é "de facto" a primeira-ministra do governo. O governo garante que mesmo com uma redução do superávit primário com o objetivo de aumentar os investimentos em infra-estrutura, a relação entre a dívida e o PIB, atualmente em cerca de 50%, continuará declinando. "Entretanto, muitos economistas consideram isso uma diluição da determinação fiscal do governo, o que tornar menos provável uma vigorosa reforma de mercado", disse o FT. Mantega disse que o governo está consciente da necessidade de remover as barreiras burocráticas ao crescimento e demonstrou otimismo com o impacto da planejada reforma tributária. "Vamos juntar todos nossos impostos indiretos num único imposto de valor agregado nacional", disse o ministro. "Temos um cronograma de trabalho no qual todas essas coisas vão acontecer e no dia 6 de março teremos nosso primeiro encontro com os governadores de Estado." Estímulo ao crescimento Mas o FT observa que, segundo os críticos do governo, esses esforços não são suficientes. "Muitos concluíram que o governo está se tornando menos convencido de que a ortodoxia é o caminho a ser seguido", disse. "Na verdade", acrescenta o jornal, "o governo parece estar perdendo a disciplina fiscal que manteve durante o primeiro mandato de Lula". Segundo o FT, ao invés de cortar gastos ou implementar outras reformas, o PAC deixa claro que o governo colocou toda sua fé no poder do investimento para estimular a atividade econômica. Rousseff disse que o plano pega "a variável do investimento como a variável determinante para aumentar a taxa de crescimento econômico". A ministra foi taxativa ao descartar uma reforma trabalhista. "Isso não está na agenda do governo. Acreditamos que existem outras prioridades maiores", disse Rousseff. No entanto, segundo o FT, talvez as maiores dúvidas sobre o segundo mandato de Lula estejam relacionadas a suas prioridades: crescimento econômico ou melhora na distribuição de renda? "Na verdade, se o persistente crescimento lento foi o fracasso do primeiro mandato de Lula, seu notável sucesso ocorreu na distribuição de renda", disse o jornal. "Programas de bem estar social baratos e muitos direcionados, e, acima de tudo, inflação baixa e preços altos na exportação de commodities ajudaram a produzir melhoras nas condições de vida dos pobres que tornaram Lula o presidente mais popular da história do Brasil." Segundo o FT, o temor manifestado por alguns analistas não é que o segundo mandato de Lula vai tomar a rota do populismo. "O temor é que ao fracassar em aproveitar a oportunidade oferecida pelas condições benignas globais para reformular o Estado, ele condenará o país a muitos mais anos de mediocridade", disse. Gás boliviano O jornal também avalia as negociações com a Bolívia pelo gás natural dizendo que o País "poderá pagar um preço pelo generoso acordo do gás" firmado na semana passada com o presidente Evo Morales. Segundo o diário britânico, a maneira como o acordo foi estruturado parece o objetivo de "permitir que uma coisa seja dita e outra aconteça". O preço que a Petrobrás paga pelo gás natural permanecerá inalterado. "Mas a Petrobrás vai pagar mais", disse. Segundo o jornal, o acordo também envia "um sinal negativo para os investidores preocupados com a incerteza regulatória". O FT observou que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, numa entrevista recente, disse que o governo está disposto a criar regras claras para os investimentos de longo prazo. "O acordo da semana passada parece um passo na outra direção", disse o jornal.

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