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Falsificação, uma indústria brasileira que não pára de crescer

A indústria brasileira da falsificação produz 500 mil peças de roupas por mês. Mas já não se contenta em fazer imitação de marcas famosas. Agora, a moda é copiar camisetas e bolsas de campanhas de caridade ? e arrecadar donativos para fins nada filantrópicos

Por Agencia Estado
Atualização:

Andar na moda está cada vez mais barato. Hoje, é possível encontrar no comércio ambulante da cidade praticamente toda a espécie de roupas e acessórios falsificados, levando as bandeiras de marcas famosas. É a indústria da falsificação, um crime que, a cada ano, resulta em um prejuízo de R$ 2 bilhões para o Brasil. Com R$ 100, é possível dar uma volta na Galeria Pagé, no centro de São Paulo, e vestir-se por inteiro com roupas ostentando etiquetas conhecidas. Comprando uma calça Zoomp (R$ 25), um pacote com três meias Nike (R$ 5), uma camiseta Nike (R$ 20) e um tênis Reebok (R$ 15, na promoção), uma pessoa gasta R$ 65. Sobra ainda dinheiro para os acessórios: um boné Bad Boy (R$ 4), uma carteira Wrangler (R$ 7), um relógio (R$ 7) e uma mochila (R$ 12) Nike. Se a pessoa não quiser voltar para casa com o troco, de R$ 5, pode comprar uma camiseta estilo "baby-look" da campanha "O Câncer de Mama no Alvo da Moda" para dar de presente para aquele parente que tem fama de ser engajado em ações sociais. Tudo, claro, devidamente falsificado. 500 mil peças falsificadas por mês A Associação Brasileira do Vestuário (Abravest) estima que, a cada mês, são produzidas 500 mil peças de roupas falsificadas no Brasil. "Esses produtos são muito vendidos porque têm liqüidez imediata no mercado, já vêm com a propaganda feita e contam com a credibilidade das pessoas", diz o delegado titular da Delegacia de Estelionato, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), Manoel Camassa. Cabe à Delegacia do Estelionato promover ações para apreender produtos falsos que são vendidos em São Paulo. "É um trabalho rotineiro, constante e diário", diz Camassa. "A falsificação se profissionalizou tanto que, hoje, é até terceirizada em alguns setores. Há gente que fabrica as roupas, enquanto outras pessoas fazem a etiqueta, por exemplo." Por conta disso, as empresas têm se esforçado para combater a pirataria. A Zoomp, por exemplo, mantém advogados em todo o País para investigar a venda de produtos falsos encontrados em camelôs e até em lojas. Estima-se que, a cada peça original vendida pela marca, outras três falsificadas também entrem em circulação. A Nike é, hoje, uma das marcas mais falsificadas do mundo. Investe, anualmente, R$ 400 mil no combate à pirataria. Em 1999, foram vendidos, no Brasil, 1 milhão de pares de tênis Nike pirateados, muitos deles contrabandeados, via Paraguai, da Coréia do Sul, Taiwan e Hong Kong. Mas muitos outros foram fabricados aqui dentro do País mesmo, especialmente em três cidades: Nova Friburgo (RJ), Nova Serrana (MG) e Franca (SP). Com a intensificação do combate à pirataria, a Nike estima que a venda de tênis falsos venha diminuindo em cerca de 200 mil pares por ano. "Temos também muita preocupação com os consumidores, porque laudos de especialistas em biomecânica e ortopedia atestaram que o uso constante de tênis falsificados pode fazer mal à saúde", diz o diretor financeiro da Nike do Brasil, Fábio Espejo. Mas não são apenas os tênis Nike que são falsificados e vendidos aqui. Roupas e todo tipo de acessórios da marca enfrentam o mesmo problema. A camisa da seleção brasileira está pendurada em varais de camelôs em diversos pontos de São Paulo. "Hoje, é possível encontrar meias, bonés, carteiras e relógios Nike sendo vendidos pelos camelôs", afirma Espejo. Uma questão cultural Para o delegado Camassa, o sucesso dos produtos falsificados no Brasil é uma questão cultural. "Existe um segmento da população que está acostumado a comprar só em camelôs", lembra. "As pessoas compram produtos falsos por conta do preço, sem se aterem ao fato de que estão sendo coniventes com o crime." Por isso, o combate, para ele, tem de ser feito desde o início. "O importante é chegar à fonte fornecedora. Se a gente consegue quebrar a perna do reprodutor, desestrutura o comércio." O diretor jurídico da Abravest, Mauro César da Silva Braga, ressalta que o consumidor precisa entender que, quando compra uma roupa falsificada, está financiando outros crimes. Braga - que também representa algumas das marcas mais falsificadas do País, como Ellus e M. Officer, diz que a dificuldade de se apreender produtos falsificados ainda é grande porque, apesar de se ter conhecimento de quais são os lugares em que elas são vendidas, é preciso que várias empresas se unam e façam ações de apreensão conjuntas, munidas de ordem judicial e com suporte policial.

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