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Falta de competição e produtividade

Por André Meloni Nassar
Atualização:

Já ganhou força a visão de que o setor industrial brasileiro precisa ganhar produtividade para ser capaz de competir internacionalmente. Mas ainda é tímida no Brasil a visão de que o aumento de produtividade requer, necessariamente, mais competição nos setores produtores de insumos para a indústria. Essa percepção fica ainda mais evidente quando um setor exportador e com interesses ofensivos é analisado.Estudo desenvolvido pela Agroicone e a União Brasileira de Avicultura (Ubabef) sobre a competitividade da indústria exportadora de frango no País avaliou os custos de produção e distribuição na cadeia, incluindo a produção do animal, a parte industrial e os custos de logística até os principais mercados de destino. Comparamos os dados de custos do Brasil com os nossos maiores competidores. Embora tenhamos constatado que o Brasil continua sendo um país competitivo, o estudo deixou claro que nossa competitividade está centrada na produção do animal e que no setor de abate e processamento o País não está melhor do que nossos concorrentes.Três itens de grande relevância nos custos dos frigoríficos são mão de obra, embalagens e energia. O governo escolheu um caminho para lidar com as questões de energia que, embora possa ter consequências no longo prazo, promoveu redução de seu custo no curto prazo. Os custos de embalagens são mais altos no Brasil, o que mostra a necessidade de mais competição no setor petroquímico. Mas é na questão da mão de obra que quero me concentrar.Analisamos a evolução do custo da mão de obra no Brasil, nos EUA e na Tailândia de 2006 a 2013. Se no Brasil ele cresceu 165% em dólar, o aumento foi ao redor de 30% nos competidores. Embora os EUA tenham valor de mão de obra (salários, encargos e benefícios) 3,5 vezes mais alto que o Brasil, os custos por tonelada de carne são equivalentes. Há, pois, diferenças relevantes na produtividade da mão de obra.É uma conquista para o desenvolvimento do Brasil que o mercado de trabalho esteja com baixo nível de desemprego e o aumento dos menores salários ocorra a taxas acima da média. Mas essa mudança estrutural no mercado de trabalho enseja mudanças estruturais nos setores industriais em que a mão de obra ainda é um importante item de custo. No caso do frango, a mão de obra ainda representa mais que 50% do custo industrial.A receita para lidar com custos crescentes de mão de obra é conhecida: automação. Embora os frigoríficos estejam fazendo sua lição de casa aumentando o nível de automação nas linhas de abate e corte de frango, o estudo mostrou que, se a intenção é reduzir os custos industriais, é preciso investir mais. E é nesse ponto que vemos o Brasil numa encruzilhada. A necessidade para investir existe, mas investir aqui é caro. O custo marginal de investir em aumento de capacidade de abate e corte no País é entre 25% maior do que nos EUA e 85% mais alto que na Tailândia. Maior custo para investir aumenta o custo operacional e requer mais financiamento para as empresas. Ou seja, gera uma situação de investimento subótimo, como hoje vemos no País.Por que é mais caro investir no Brasil? Porque falta competição e sobra proteção, como tarifas elevadas e exigências de conteúdo nacional para tomar financiamento público nos setores de siderurgia, máquinas e equipamentos no Brasil.É no elevado custo para investir que reside hoje a maior fragilidade dos setores competitivos e exportadores da indústria brasileira. Desoneração da folha de pagamento, redução do custo da eletricidade, melhorias em infraestrutura e logística e financiamento a custos competitivos são, sem dúvida, ações fundamentais. Mas, enquanto não houver maior competição nos setores de insumos, máquinas e equipamentos para o setor industrial, os setores competitivos não vão conseguir expandir a capacidade da produção no Brasil, situação que vemos atualmente nas carnes. As consequências dessa situação são conhecidas: as empresas brasileiras, sendo competitivas internacionalmente, deverão aumentar a capacidade produtiva fora do Brasil.*André Meloni Nassar é diretor da Agroicone. Site: www.agroicone.com.br

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