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Falta de experiência levou recrutadora a rejeitar nome de novo presidente da Eletrobrás

A empresa Korn Ferry foi contratada para buscar um substituto para Wilson Ferreira Junior, mas o próprio governo escolheu Rodrigo Limp; no entanto, escolha agradou ao mercado

Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Marlla Sabino
Por Anne Warth , Fernanda Guimarães , Marlla Sabino e Luciana Collet (Broadcast)
Atualização:

A indicação pela União do atual secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Rodrigo Limp, para assumir a presidência da Eletrobrás criou um desgaste em torno da governança corporativa de mais uma estatal, pouquíssimo tempo depois das trocas dos presidentes da Petrobrás e do Banco do Brasil. Isso porque o nome do executivo não passou pelo crivo da recrutadora Korn&Ferry, contratada para buscar um novo presidente para a companhia após a saída de Wilson Ferreira Júnior, que deixou a empresa para assumir a BR Distribuidora.

Apesar disso, a escolha foi bem recebida pelos investidores. Com a leitura de boa parte do mercado financeiro de que Limp atende critérios técnicos, os papéis ordinários da estatal elétrica avançaram 4,96%, enquanto os PNB subiram 3,62%. “Por mais que o processo seja questionado e visto negativamente pelo mercado, a indicação de um nome técnico e que possui um bom trânsito no meio político eleva o humor dos analistas para que possa ocorrer a capitalização da companhia”, afirmou o time de analistas da Ativa Research.

Indicado para a presidência da Eletrobrás, Rodrigo Limp éo atual secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia. Foto: Isac Nóbrega/PR - 5/8/2020

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Os analistas do banco JP Morgan também apontaram a escolha de Limp como positiva para o processo de privatização, uma vez que o nome indicado pelo governo tem tanto credenciais técnicas como trânsito no mundo político. Para João Pimentel, analista do BTG Pactual, a indicação é bem-vinda, apesar de o nome de Limp não constar na lista originalmente elaborada pela consultoria Korn&Ferry. “É um nome muito técnico, apesar de não ter experiência em gestão empresarial”, acrescentou.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, foi a falta de experiência no comando de uma empresa que levou a Korn&Ferry a rejeitar o nome Limp para o cargo. Mesmo não estando na lista, o executivo “foi avaliado e recomendado pelo Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração, entrevistado e aprovado, por maioria, pelo Conselho de Administração, e atende aos requisitos legais e de qualificação técnica necessários para o cargo”, informou a Eletrobrás.

Limp é formado em direito e engenharia elétrica e coleciona especializações: em gestão de empresa de energia elétrica, tem mestrado em economia do setor público e em direito regulatório. “O Rodrigo é muito bom. Mas a Eletrobrás é a empresa mais complexa do Brasil e ele nunca administrou uma empresa”, disse uma fonte, que acompanhou de perto o processo.

Perfil

Com perfil técnico, Limp foi servidor de carreira da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e, depois, consultor legislativo da Câmara dos Deputados. Se falta a ele experiência na gestão e administração de empresas, sobra no mundo político. De consultor, passou a diretor da Aneel e a secretário do MME, posições em que o trânsito com o poder é fundamental.

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Dado seu histórico, profissionais do setor elétrico e analistas de mercado consideraram Limp uma boa indicação para o momento da Eletrobrás, em seu desafio de efetivar a capitalização, que passa pelo convencimento dos parlamentares. “Limp é um bom nome porque veio do Congresso, é consultor parlamentar concursado, é respeitado e ouvido por diversos parlamentares, sabe como funciona a Casa e pode fazer a diferença nesse momento da capitalização”, afirmou o presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, que foi secretário-executivo do MME quando se desenhou a primeira proposta de capitalização da Eletrobrás.

Um analista de mercado de um grande banco estrangeiro, que falou na condição de anonimato, considerou Limp uma boa solução, mas admite que a análise fica prejudicada pela falta de conhecimento sobre quais profissionais estavam sendo considerados pela Korn&Ferry. “Definitivamente, o nome parece correto, mas claramente o processo podia ser menos atribulado se soubéssemos as opções”, disse.

Gabriel Francisco, da XP, diz que não houve violação de regras de governança, uma vez que a contratação da consultoria externa independente é uma “possibilidade” prevista no estatuto, e não uma obrigação. “Positivo não foi (o ruído e a saída de Mauro Cunha) e é um desgaste certamente, mas o balanço final ainda é positivo”, disse.

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