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Falta de financiamento trava exportações de US$ 20 bi para o Irã

Governo articula com bancos privados uma forma de incentivar vendas para o país árabe; mercado estava praticamente fechado por causa de sanções internacionais

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - O governo articula com os bancos privados uma forma de destravar as exportações para o Irã. Trata-se de um mercado que estava praticamente fechado por causa de sanções internacionais, suspensas no início de 2016. "Temos potencial de exportar para lá US$ 20 bilhões nos próximos cinco anos", informou ao Estado o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira. 

Serra e Pereira reuniram-se na manhã desta sexta-feira, 18, com o ministro das Relações Econômicas e Finanças do Irã, Ali Taiebnia Foto: André Dusek/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

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Porém, a falta de financiamento impede a venda de bens de valor mais elevado, como aviões, automóveis e equipamentos. Pereira disse que levará o tema para discussão na reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), marcada para o próximo dia 30. 

"Tem dois problemas: um é que os Estados Unidos suspenderam as sanções, mas a área financeira, não", explicou ao Estado o ministro das Relações Exteriores, José Serra. "O Banco do Brasil opera nos Estados Unidos e tem receio de ser punido, sofrer restrições da legislação americana." 

De acordo com a área técnica, os bancos privados brasileiros também têm essa mesma preocupação. Por isso, a pedido do governo brasileiro, uma missão do Office of Foreign Assets Control (Ofac), uma divisão do Departamento do Tesouro norte-americano que cuida das operações no exterior, encontra-se no Brasil. O objetivo é esclarecer aos bancos brasileiros quais os limites das sanções que eles impuseram ao Irã na área financeira.

O outro problema apontado por Serra é o período de contração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição se diz disposta a financiar as vendas para o Irã, mas tem problemas de funding. 

Serra e Pereira reuniram-se na manhã desta sexta-feira, 18, com o ministro das Relações Econômicas e Finanças do Irã, Ali Taiebnia. Os dois países buscam aumentar o fluxo de comércio e investimentos, e para isso constituíram uma Comissão Econômica Bilateral. 

"O que precisa é que o BNDES aprove (o financiamento)", disse o vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo, José Antonio Fernandes Martins. "É uma questão de ajuste político."

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A empresa espera vender 15.000 ônibus para o Irã. Algumas unidades seguirão prontas, mas a maioria será montada lá. "Temos fábrica no México, na Colômbia, na China, na Índia, na Austrália, no Egito e na África do Sul", listou. "Ninguém tem a experiência que a Marcopolo tem de montar fábrica no exterior."

Atualmente, a corrente de comércio entre os dois países é da ordem de US$ 2 bilhões, altamente favorável para o lado de cá. De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou US$ 1,879 bilhão e importou apenas US$ 59 milhões. 

As vendas brasileiras estão concentradas em produtos agropecuários. Das exportações realizadas neste ano, perto de US$ 1 bilhão são em milho e soja e outros US$ 300 milhões são de carne bovina.

Segundo Pereira, o Brasil é o maior produtor e exportador de alimentos halal (em conformidade com os costumes muçulmanos) no mundo. No período, o Brasil importou do Irã semimanufaturados de ferro e ureia.