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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Falta gasolina no Posto Ipiranga

Não faltam nomes para apaziguar o mercado, mas a questão é saber o que Bolsonaro quer

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Atualização:

E se o ministro Paulo Guedes também debandar, como certas vezes ameaçou?

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Naquela fatídica reunião ministerial de 22 de abril, o ministro abateu com alguns mísseis verbais o tal Plano Pró-Brasil, que os populistas da hora, liderados pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, queriam impor ao governo, como se se tratasse de nova proposta redentora, tipo Plano Marshall. Pareceu, então, que Bolsonaro não estaria disposto a se meter em aventuras.

Mas, de lá para cá, embora siga sendo prestigiado “de boca”, o Posto Ipiranga vai perdendo gasolina, não apenas em sua equipe de notáveis, mas principalmente pela pobre acolhida a sua pauta liberal de reformas. É uma situação esdrúxula que, por si só, encoraja os políticos sempre favoráveis à gastança a aumentar a pressão por políticas supostamente keynesianas, que criariam fartas despesas de cunho desenvolvimentista.

Na última segunda-feira, a maneira inconformada como admitiu “a debandada” de sua equipe mostrou que o ministro Paulo Guedes denunciava a falta de respaldo do presidente ao cumprimento do que prometeu na campanha.

Alguns analistas vêm advertindo que eventual saída de Guedes produziria o caos na economia. Não é por aí. Bolsonaro sempre teria substitutos capazes de amansar o mercado. Poderia convocar o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que vem mostrando compromisso com a ortodoxia. Poderia aderir ao “chama o Meirelles”, que já foi Banco de Boston, governo PT, governo Temer, Grupo JBS, candidato a presidente da República e hoje é secretário do governador João Doria. E há outros. Não faltam nomes que apaziguariam temporariamente o mercado.

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O ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Gabriela Biló/Estadão

A questão de fundo está em saber o que Bolsonaro realmente quer. E o que faria, e com que respaldo, quem ocupe a cadeira do Ministério da Economia. É certo que o presidente não sente nenhuma atração especial pelo cumprimento de uma pauta liberal. Também não segue nenhuma estratégia, entendida esta como a organização de um conjunto de fatores para obtenção de objetivos de médio e longo prazos. Suas inclinações são autoritárias e centralizadoras, seu principal objetivo é manter afastadas as ameaças de impeachment, que já foram maiores, preservar os interesses da própria família e garantir a reeleição em 2022. Foi para isso que sentiu necessidade de obter no Congresso o apoio de políticos adeptos do toma lá dá cá.

No momento, Guedes avisa o presidente que seus objetivos só podem ser alcançados com um mínimo de ordem nas contas públicas e com avanço consistente nas reformas. Fora disso, é falta de chão e derrota nas eleições.

Mas os populistas do Centrão e adjacências assopram outra corneta: seu objetivo de sobrevivência passa por primeiro convencer o eleitor com gastos generosos e projetos de desenvolvimento, não importando de onde proviessem os recursos para isso.

Vai que Bolsonaro esteja à espera de um fato especial. Vai que imagine que aquilo que não conseguiu com a cloroquina poderá conseguir com a vacina. Mas, também nisso, a questão central não é de nomes, mas de atitude.

CONFIRA

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» À espera da vacina

O setor de serviços pesa mais de 70% do PIB e foi o mais atingido pela pandemia. Por isso, o que acontece aí tem muita importância para a evolução da atividade econômica. O crescimento de 5,0% em junho, depois de quatro meses consecutivos de queda, mostrou que a reativação econômica está a caminho. Mas ainda não dá para confiar nem em sua consistência nem em seu ritmo. O fator que poderá mudar tudo e proporcionar forte recuperação será a disponibilidade de uma vacina.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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