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Falta o líder

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Por Celso Ming
Atualização:

Se é verdade que toda grande crise gera um grande líder, nesta ele ainda não apareceu. E, se já está por aí, ainda não comprovou sua capacidade de liderança. Desacreditado, o presidente Bush em nenhum momento conseguiu passar tranqüilidade e confiança à população americana (e mundial) tantas vezes tomada pelo pânico. Todas as vezes em que foi à TV para pedir calma e inspirar fé no futuro, espalhou mesmices e palavras vazias. No final de julho, por exemplo, quando os mercados derretiam e a população queria um rumo, Bush não conseguiu mais do que dizer que "Wall Street ficou bêbada e está de ressaca". A partir de 13 de setembro, sentiu que não poderia deixar a crise passar batida. Mas ficou nas irrelevâncias, como os repetidos apelos a que a população tivesse mais confiança "no futuro da América". Foi apenas na primeira semana deste mês que Bush reconheceu que seu país estava em recessão. Em nenhum momento conseguiu tocar corações e mentes. Entre os dirigentes da União Européia também não apareceu ninguém com a tocha erguida a apontar a direção a seguir. O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, chegou a ser mencionado como aquele que, afinal, tinha entendido que a solução não estava na compra açodada de títulos podres para aliviar a carga dos bancos, até porque ninguém conseguiu calcular o preço correto deles. Brown foi o primeiro a mostrar que o principal problema dos bancos é a falta de capital e que, por isso, a solução consiste em levar os Estados a subscreverem ações preferenciais. Mas essa intervenção não chegou a lhe conferir papel de liderança. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, bem que tentou aproveitar o vazio político e vem pregando a instituição de uma nova arquitetura econômica, que ele denominou Bretton Woods 2, em alusão à conferência que, em 1944, definiu a ordem econômica mundial que prevaleceu até 1972. Em outubro, Sarkozy conseguiu convencer Bush a convocar uma reunião de cúpula do Grupo dos 20, que se reuniu em Washington no mês seguinte. Lá ficou definido que, em abril, se reencontrarão em Londres, desta vez com Barack Obama, sabe-se lá com que planos. Na verdade, a Europa não consegue, neste momento, apresentar quem consiga apontar uma saída. Seus dirigentes não se entendem. Angela Merkel, da Alemanha, não se afina com Sarkozy; o italiano Berlusconi não fala coisa com coisa e continua falando sozinho; Gordon Brown parou no que foi capaz de intuir; e Zapatero, da Espanha, parece desgastado e sem iniciativa. A economia em prostração já enfrentava dificuldades para lidar com uma grande crise global, contando para isso apenas com o manejo de instituições que operam localmente, como é o caso dos bancos centrais e dos tesouros. A falta de liderança acentua a impotência do momento. Afirmar que o presidente eleito americano Barack Obama é o homem que falta e que vai preencher o vácuo político e a vontade global de acreditar, por enquanto, não passa de uma aposta. Ele assumirá o cargo dia 20 de janeiro carregado de votos, de carisma e de esperança. Mas ele próprio já advertiu que terá de fazer escolhas e que, quando forem conhecidas, contrariarão interesses. Aí se verá até que ponto Obama será o líder que tanta falta está fazendo.

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