'Falta os EUA definirem o Brasil na OCDE'
Angel Gurría diz que acordo com Estados Unidos é chave para plano de entrada do País na organização
Entrevista com
Angel Gurría, secretário-geral da OCDE
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Angel Gurría, secretário-geral da OCDE
21 de outubro de 2019 | 05h00
WASHINGTON - “O Brasil já é da família”, afirma o secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría, ao falar sobre o processo de entrada do País no grupo. Como obstáculo à adesão do Brasil, no entanto, está a posição dos Estados Unidos, segundo ele.
Em entrevista ao Estado, concedida durante sua viagem a Washington para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gurría explica que não está em questão a existência de um apoio do governo Trump ao Brasil, mas sim a maneira como o suporte será sinalizado.
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Há 10 dias a agência de notícias Bloomberg revelou que, em agosto, o secretário de Estado, Mike Pompeo, enviou carta à OCDE na qual manifesta o apoio dos EUA à entrada da Argentina e da Romênia. Os EUA têm defendido um plano lento de expansão do órgão, contrário ao cronograma defendido pelos europeus que abarcaria previsões e plano de adesão dos seis candidatos atuais. A posição americana prejudica o Brasil.
Gurría disse que a menção à Argentina e à Romênia como primeiros no processo de adesão não deveria ser uma surpresa. A questão é a ausência de referência aos demais candidatos – o que implica em um impasse com os outros 35 membros da OCDE. Ele também disse que, pela organização, não há limite à quantidade de membros que podem iniciar o processo de entrada. Leia os principais trechos da entrevista.
Primeiro, Argentina e Romênia estiveram na lista desde dezembro do ano passado. Isso não deveria ser uma surpresa. Segundo, mesmo depois de o presidente Bolsonaro se encontrar com o presidente Trump, era entendido que Argentina e Romênia iniciariam antes. Mas não se disse nada (na carta) sobre os outros países que aplicaram. Essa é a chave da questão. A questão é como vamos nos referir agora aos outros países para sinalizar que haverá alguma discussão posterior. Acho que todo mundo entende o que o presidente dos EUA afirmou a Bolsonaro em março, e eu pessoalmente fui uma testemunha em Osaka (durante encontro do G-20, em junho) que o presidente confirmou isso. Ele confirmou novamente (após a carta se tornar pública), assim como secretário de Estado. Mas a questão agora é como isso começa.
O que temos é o que você já sabe. Você teria que fazer essa pergunta para os Estados Unidos. Temos o número de candidatos colocado e diferentes formas de abordar. Não tenho uma resposta sobre qual é o problema. Pode inclusive não ser um problema, mas uma questão de quem vai primeiro.
Os EUA têm sido bastante consistentes nisso. A questão que não está definida e que os países estão discutindo agora é como fazer essa referência aos outros candidatos. Isso é a chave de um próximo acordo.
Quem vem depois e como vamos fazer? Como vamos lidar com isso? O que precisamos é de precisão para saber como vamos proceder com os outros quatro candidatos além de Argentina e Romênia.
Não, estamos falando de seis no total, dos quais dois estão nessa indicação dos EUA. Nós podemos administrar o processo de entrada de dois, três, quatro, cinco. Mas os membros desejam também um processo mais ou menos coordenado, sequencial.
Sem dúvida, tem razão. O Brasil é o País que tem aderido a maior número de instrumentos da OCDE e que é membro de mais comitês. É muito inteligente da parte do Brasil, o Brasil já é da família. O final do processo vai avaliar todas essas condições e isso vai ajudar o País quando iniciar formalmente a adesão.
Acredito que falta somente definir entre os membros, e particularmente os EUA, como será para fazer referência para os outros candidatos, incluindo o Brasil.
Temos um bom consenso, estamos trabalhando para definir isso, mas acredito que não há dúvida. Todos os países estão avaliados pelo conselho. Independentemente do momento de começar com o processo formal, já estamos encurtando o processo futuro.
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