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Falta, quem diria, areia no mundo

Por causa do aquecimento da indústria da construção civil na Ásia, a demanda por areia está em alta

Por The Economist
Atualização:

Na Índia, a “máfia da areia” vai de vento em popa. O jornal Times of India estima que o mercado negro de areia movimenta cerca de US$ 2,3 bilhões por ano no país. Só numa das áreas de extração, no Estado de Tamil Nadu, são retirados ilegalmente 50 mil caminhões de areia por dia. Em todo o país, abundam os episódios de violência resultantes da disputa por mercado entre quadrilhas que querem continuar faturando com o atual boom da construção civil.

Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo em Dubai, foi construído com areia da Austália Foto: Jumana ElHeloueh|Reuters

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Para boa parte da moderna economia global, a areia é um insumo fundamental. O grosso da areia extraída pelo mundo afora é absorvido pela indústria da construção, que a utiliza para fazer concreto e asfalto. Quantidade menor de areia fina é empregada na produção de vidro e equipamentos eletrônicos e, especialmente nos EUA, na exploração de petróleo de xisto com tecnologia de fraturamento hidráulico. 

Não admira, portanto, que a areia e o cascalho sejam os materiais mais extraídos do solo terrestre. Segundo relatório publicado em 2014 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), ambos representam, em peso, 85% da produção mineral global anual. Com a construção civil ainda se recuperando da crise de 2007-2008 no Ocidente, é na Ásia que atualmente se concentra a demanda. Números da empresa de pesquisas de mercado Freedonia Group indicam que, no ano passado, de um total de 13,7 bilhões de toneladas de areia extraídas mundialmente para serem usadas na construção civil, 70% teve por destino a Ásia. Metade disso foi para a China. 

A areia com frequência forma o próprio chão sobre o qual se erguem novas construções. Tendo despejado enormes quantidades de areia no mar, Cingapura é hoje 20% maior do que era quando obteve a independência, em 1965. A China e o Japão aterraram áreas ainda maiores, e a China causou indignação mundial transformando recifes do Mar do Sul da China, sobre os quais outros países também alegam ter soberania, em ilhas artificiais. 

Há também lugares em que os aterros são uma infeliz necessidade: nas Maldivas e em Kiribati, ilhas maiores estão sendo protegidas do aumento do nível do mar com areia retirada de ilhas menores ou do leito do oceano. 

Acontece que, embora pareça haver areia de sobra no mundo, ela está se tornando escassa. Nem todos os tipos são utilizáveis: a areia dos desertos é fina demais para a maioria das finalidades comerciais. Os locais de extração também não podem estar muito longe dos canteiros de obra: o custo do transporte é elevado, carregar areia até localidades distantes geralmente se mostra economicamente inviável. Isso não chega a ser fator impeditivo para países com baixas reservas internas (e bolsos fornidos). Cingapura e Catar são grandes importadores: o arranha-céu Burj Khalifa, em Dubai, foi construído com areia importada da Austrália.

O homem vem extraindo areia da Terra em ritmo acelerado demais para que as reservas naturais consigam se recompor. A extração em leitos fluviais e marítimos polui hábitats naturais, prejudicando a pesca e a agricultura. No lago chinês de Poyang, que, segundo o Pnuma, é o maior local de extração de areia do mundo, acredita-se que a atividade tenha feito baixar o nível da água. 

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No Ocidente, por conta de preocupações desse tipo foram adotadas restrições. Nos EUA, por exemplo, a mineração oceânica e nas proximidades de grandes áreas residenciais é restringida. Regulamentações também foram adotadas em vários países em desenvolvimento. 

O problema é que as normas nem sempre são cumpridas. Na Índia, os responsáveis pela fiscalização se omitem por medo da “máfia”, diz Sumaira Abdulali, da Fundação Awaaz, uma ONG de Mumbai. 

Assim, apesar dos efeitos prejudiciais da mineração descontrolada, a máfia do segmento continuará, por ora, a encher os bolsos com areia.© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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