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Faltam políticas microeconômicas, dizem economistas

Por Agencia Estado
Atualização:

Se na macroenomia o governo Lula tem merecido louvores de economistas das mais diversas tendências, o mesmo não ocorre com a política microeconômica, o que explica os escassos investimentos diretos no País, tanto internos como externos. A conclusão é dos economistas José Márcio Camargo, da Tendências Consultoria, e Marcelo Sefarti, do Fidúcia Asset Management, an entrevista que concederam ao programa Espaço Aberto, da Globo News. Para Sefarti, o Brasil do governo petista tem recebido, até agora, apenas dinheiro de curto prazo, devido ao receio dos investidores quanto às regras do jogo. Lembrou que, neste sentido, as críticas que vêm sendo feitas às agências reguladoras, por membros do governo, explicam este receio. Segundo ele, o mercado está dando um voto de confiança ao projeto de consolidação do regime fiscal do ministro Antônio Palocci, aos regimes de câmbio flutuante e de metas de inflação, bem como às reformas estruturais que estão sendo prometidas. Ideologia versus técnica Para Camargo, a política macroeconômica está correta, mas sua preocupação, que combina com a de Safarti, está relacionada com as políticas microeconômicas, "onde as coisas estão muito mais complicadas". Como exemplo, citou a questão das agências reguladoras e a atuação dos ministérios dos Transportes, das Cidades e a questão dos transgênicos. Segundo ele, essas questões estão sendo tratadas muito mais de uma forma ideológica do que de uma forma técnica. "A agência reguladora é uma coisa fundamental para você atrair investimentos de longos prazos", acentuou. "Quando o governo vai para a televisão para dizer que é um absurdo que o presidente da República saiba dos reajustes de tarifas pelo jornal, isso é um erro. O reajuste de tarifas não tem que ser visto pelo presidente da República. Isso só poderia ser visto pelo presidente da República se a empresa fosse estatal. Se a empresa for privada, deixar para o presidente a prerrogativa de reajustar a tarida de uma empresa privada, simplesmente os investimentos não vão acontecer." "Bote salva-vida" Em complemento, Safarti disse que a questão levantada por Camargo gera uma desconfiança desnecessária "para um País que está se propondo adotar políticas tão arrojadas na área macro". E acrescentou: "Mas eu vou até um pouco além. Também me preocupa qualquer forma de bote salva-vida para empresas que têm problemas", numa referência a declarações do presidente do BNDES, Carlos Lessa. "O risco empresarial de quem investiu tem de ser integral", advogou. Para ele, caso a inadimplência da Eletropaulo (cuja controladora, a americana AES tem dívidas vencidas com o BNDES) se consuma, o certo seria o banco assumir a empresa e recolocá-la em leilão. "Eu garanto que não vão faltar tomadores de porte que tenham capacidade para reestruturar a dívida e salvar a empresa. O Brasil tem um setor privado suficientemente sólido para poder assumir um bom número de ativos que estão aí hoje problemáticos. O que não podemos é pegar um dinheiro que é fundamental para o financiamento das exportações, que são geradoras de emprego, e dá-lo como bote salva-vida de interesses privados que já conheciam os riscos que corriam." O papel do BNDES Segundo Camargo, o BNDES e o próprio governo não podem, de nenhuma forma, serem hospitais de empresas. E, no caso da AES, o certo mesmo é executar as garantias. "Acho que o BNDES deveria se comportar, neste caso, como qualquer banco privado."

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