Pelo seu perfil, o carioca Adalberto Telles, de 54 anos, tem todas as qualidades para ser disputado a tapa pelo mercado para ocupar cargos de alta gestão. No País em que o déficit de engenheiro é estimado em 150 mil profissionais, ele tem diploma de engenharia mecânica. Fala inglês, enquanto menos de 3% da população domina o idioma.
Se o brasileiro tem, em média, apenas sete anos de estudo - o equivalente ao fundamental incompleto -, Telles tem pós-gradução, mestrado e doutorado. Para completar, sua experiência é diversificada e de alto calibre. Mesmo com tudo isso no currículo, desde o fim do ano passado Telles faz parte do que a Pesquisa Mensal de Emprego considera uma minoria. É um desempregado no País do pleno emprego.
Passou o ano buscando, em vão, uma vaga. "O mercado simplesmente deu uma parada", diz. "Principalmente nos postos mais seniores."
Experiência.
Telles fez carreira em empresas reconhecidas. Entre 1989 e 1997, coordenou projetos na Itaú Planejamento e Engenharia, empresa do mesmo grupo do Itaú Unibanco. Ele participou, entre outros projetos, da criação da joint venture entre Itautec e IBM para a produção de equipamento de informação.
Na sequência, ficou cinco anos na Willis, terceira maior corretora de seguros do mundo, ocupando o posto de diretor financeiro. Em 2004, ingressou na Yamana Gold, então uma multinacional nova na exploração de ouro. Lá atuou como diretor financeiro e de gestão de riscos. Quando entrou na companhia, o faturamento era de U$ 330 milhões. Ao deixá-la, em 2011, aceitando um convite da Caraíba Mineração, o resultado da Yamana havia batido na casa dos U$ 2 bilhões.
A Caraíba é uma das maiores empresas de mineração de cobre no Brasil e Telles assumiu como vice-presidente financeiro com a função de montar um centro corporativo no Rio de Janeiro. No setor mineral, esse tipo de consolidação não é óbvia. Muitas empresas dão autonomia para as áreas de acordo com os minérios que exploram ou a localização das minas. Parte do capital da Caraíba foi vendido e o novo sócio não teve interesse em tocar adiante a centralização. Telles não viu sentido em permanecer e deixou a empresa em dezembro de 2012. "Tirei um período de descanso, tranquilo em relação a uma nova colocação, mas nesse meio tempo o mercado virou."
A dificuldade de encontrar uma vaga poderia ser atribuída apenas ao marasmo que se instalou no setor de mineração. Afinal, o novo código do setor está em análise há quatro anos, paralisando novos projetos, e a queda no preço do minério, em escala global, fez as empresas cortarem custos.
Mas o problema vai além. "Houve uma freada na economia, as empresas não têm uma visão clara sobre o futuro dos negócios e suspenderam investimentos", diz ele. "Por causa desse clima, contratações com salários mais altos começaram a escolher." No nível de Telles, o salário mensal varia entre R$ 50 mil e R$ 54 mil.
Segundo o executivo, ainda há contratações de gerentes, mas no alto da pirâmide ocorre uma "aglutinação" de funções. Com a saída de um diretor, as atividades são repassadas para um colega. E ele diz que as notícias que recebe de headhunters (empresas que captam executivos) são desanimadoras: não há indicação de que o cenário mude no curto prazo.