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"Farm Bill" ajuda produtor de soja brasileiro, diz consultor

Por Agencia Estado
Atualização:

A Farm Bill, nova lei agrícola dos EUA, vai desestimular o crescimento de área de soja naquele país, beneficiando o sojicultor brasileiro. A avaliação é do consultor André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. A antiga política agrícola americana vinha estimulando o crescimento anual da área plantada com a oleaginosa nos EUA. Na safra 97/98, os americanos plantaram 70,0 milhões de acres. Após aumentos de área anuais, os americanos chegaram à última safra plantada (2001/2002), com 74,1 milhões de acres. A lei agrícola, cuja versão final foi elaborada por um comitê de senadores e deputados americanos, já passou pela Câmara dos EUA, e será votada no Senado na semana que vem. O projeto destina ao setor rural dos EUA US$ 172 bilhões nos próximos 10 anos. Do montante, US$ 98,5 bilhões já estavam garantidos desde 2001, e US$ 73,5 bilhões foram adicionados por iniciativa dos parlamentares. Os subsídios para todas as culturas foram aumentados pela nova lei agrícola, se comparados com os garantidos pela lei anterior. No entanto, Pessôa observa que os benefícios para a soja, embora ampliados, não cresceram tanto quanto os destinados para o milho e o algodão, que disputam com a oleaginosa a área plantada dos EUA. Só como exemplo, os EUA aumentaram o "loan rate" (equivalente ao preço mínimo) do milho de US$ 1,89 por bushel para US$ 1,98 nos anos de 2002 a 2004. No caso da soja, o preço mínimo foi reduzido: de US$ 5,26/bushel, caiu para US$ 5,00/bushel. Os produtores americanos recebem outros subsídios, como os pagamentos diretos e os pagamentos contra-cíclicos, que fazem com que o apoio à soja também tenha crescido. Contudo, a conta final acaba favorecendo o milho, em detrimento da soja. Como os americanos já utilizam a totalidade das áreas agricultáveis do país, a soja tende a perder terreno para as outras culturas. "Mas se eles ainda tivessem para onde expandir o plantio, seria um desastre para o sojicultor brasileiro", diz o consultor. Pessôa estima que no Meio-Oeste americano, principal área produtora de milho e soja, a tendência é a do produtor utilizar metade de sua área disponível para cada cultura. "Na última safra, a relação estava em torno de 52% da soja e 48% para o milho, por causa dos subsídios mais altos para a oleaginosa", explica. Pessôa observa que a mesma tendência deve ocorrer no Delta do Mississipi, onde áreas de soja vão ser substituídas por algodão, e em Estados mais frios como a Dakota do Norte, nos quais soja será trocada por trigo. Mas não é apenas a redução de área que vai limitar possíveis aumentos na produção de soja dos EUA. "Em áreas como o Meio-Oeste, a soja tende a ser deslocada das áreas mais férteis, que serão usadas para o milho", afirma. Como a produtividade de soja dos EUA vem crescendo muito lentamente, o uso de terras piores deve levar a uma estagnação ou até queda na produtividade final. Pessôa salienta que a Farm Bill não deve afetar as decisões dos agricultores americanos para a safra que começa a ser plantada agora nos EUA. "A soja já está perdendo área para o milho nesta safra (2002/2003), mas os motivos são outros". Os ganhos com a produtividade de milho, e as preocupações com o acesso ao mercado internacional da soja transgênica dos EUA, fizeram os agricultores mudarem de estratégia este ano. Milho e algodão Se foi positiva para o setor de soja do Brasil, a Farm Bill foi um golpe para o algodão e o milho. O aumento dos subsídios para estas lavouras vai reduzir a competitividade da produção brasileira no mercado internacional. O Brasil exportou pouco menos de 6 milhões de toneladas de milho no ano passado, e deve exportar no máximo 2 milhões de toneladas neste ano. ?Os fortes subsídios americanos vão aumentar a oferta mundial e prejudicar o Brasil", diz Pessôa. O consultor afirma que o aumento de produção americana não vai influenciar a competitividade da indústria de aves e suínos brasileira no mercado internacional. "Mas vai reduzir o potencial de exportação", avalia. Mesmo assim, Pessôa acredita que o Brasil continuará exportando pelo menos uma parcela de seu milho. "Os ganhos com produtividade no País reduziram o custo médio de produção e vão continuar garantindo que o Brasil exporte milho, pelo menos em uma parte do ano", avalia. No caso do algodão, a situação é mais complicada ainda. "Os subsídios são muito altos e vão manter os preços deprimidos", diz o consultor.

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