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FBI investiga 14 empresas sobre fraudes em hipotecas

Por Patricia Lara
Atualização:

A polícia federal americana (FBI) abriu inquéritos contra 14 companhias para investigar possíveis fraudes contábeis, transações com informações privilegiadas e securitização de empréstimos relacionados a hipotecas de segunda linha (subprime). Em mais um sinal dos efeitos resultantes da crise do setor hipotecário, a ação do FBI ocorre após a regulação leve da indústria - principalmente, das corretoras de hipotecas - ser apontada como uma das culpadas por vendas enganosas e abuso de produtos hipotecários. O porta-voz do FBI, Bill Carter, afirmou que a agência está trabalhando "em proximidade" com o órgão regulador do mercado de valores mobiliários norte-americano (a Securities & Exchange Commission, SEC), mas algumas das investigações estão ocorrendo em paralelo. O porta-voz recusou-se a citar as companhias envolvidas, mas o FBI informou que está olhando supostas fraudes em vários estágios do processo hipotecário, de companhias que empacotaram os empréstimos em novos produtos até bancos que terminaram por deter esses produtos. O número de casos de fraude hipotecária abertos pelo FBI subiu de 436, em 2003, para 1.210 no ano fiscal em 2007, de acordo com informações do FBI. "Nós estávamos discutindo esse assunto desde 2004", afirmou Carter. "Nós consideramos a fraude hipotecária como um problema criminal significativo e em crescimento e uma área de preocupação. O combate a esse problema é uma prioridade diante do impacto do setor imobiliário na economia mais ampla". Como já foi divulgado anteriormente, os procuradores federais do Brooklyn, Nova York e da SEC estão avaliando o colapso de dois fundos de proteção (hedge) do banco de investimento Bear Stearns. A SEC e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos também estão investigando o fornecimento de informações privilegiadas para a venda de ações e a contabilidade da New Century Financial, uma empresa de concessão de hipotecas que está em processo de falência. Ontem, os bancos americanos Morgan Stanley e o Goldman Sachs apresentaram documentos regulatórios informando que receberam requerimentos de informações do governo e de agências regulatórias relacionadas a empréstimos subprime, mas as duas empresas não identificaram as agências que pediram a documentação. Também evitaram comentar o assunto. O FBI informou que as investigações estão em um estágio inicial, observando ainda que as provas são complicadas, diante dos veículos financeiros sofisticados usados para estimular o boom dos negócios hipotecários nos últimos anos. O chefe da divisão de investigações criminais da seção de crimes financeiros do FBI, Sharon Ormsby, afirmou, em entrevista, que o empacotamento de empréstimos ruins com bons em um único ativo torna qualquer eventual fraude difícil de desamarrar. "O empacotamento desses empréstimos são tão amplos, que é difícil para nós separar cada um dos lotes e afirmar: OK, este é o empréstimo ruim que levou a um fracasso do processo de securitização", disse. Parte das investigações da SEC está relacionada ao potencial uso de informações privilegiadas, com foco nas baixas contábeis mais amplas do que as projetadas e reveladas recentemente pelos bancos de Wall Street. A forma como as agências de avaliação de risco conferiram notas a esses ativos formados pelo empacotamento de hipotecas também faz parte do esforço, segundo o jornal norte-americano Financial Times. As informações são com os jornais Wall Street Journal e Financial Times.

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