EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Febraban: financiamento no mercado de capitais cresce 78%

PUBLICIDADE

Por Sonia Racy
Atualização:

A decisão do Copom esta semana foi correta, no ver de Fábio Barbosa, presidente da Febraban. Para ele, a economia brasileira está crescendo num ritmo que vem se acelerando, mas sem pressões inflacionárias. "O que não dá para saber é até que ponto as reduções de juros feitas até agora já estão devidamente refletidas no ritmo de crescimento e o quanto ainda está por vir", pondera, lembrando que esta deverá ser, mais uma vez, a avaliação que o BC fará na próxima reunião, em setembro. "O BC tem feito seu trabalho de forma cuidadosa." Aqui, trechos de sua entrevista concentrada no crescimento do crédito: O crédito está crescendo de forma homogênea? Está, tanto na pessoa física quanto na pessoa jurídica. E, tanto num caso quanto no outro, temos atuado em grupos de menor renda. Sobretudo no caso das pessoas jurídicas, porque as empresas maiores estão, cada vez mais, se financiando no mercado de capitais. No ano passado, foram levantados R$ 125 bilhões no mercado de capitais, sendo R$ 31 bilhões em ações e R$ 94 bilhões no mercado de bonds e de Fdics. E este ano o crescimento de ações já é de 78% nos primeiros seis meses, comparado com o primeiro semestre do ano passado. Até junho, foram levantados R$ 27 bilhões, ante R$ 15 bilhões até junho de 2006. No caso de papéis Fdics, o crescimento foi de 17%. O que significa isto? Significa que boa parte do crédito interno, que continua crescendo 20% ao ano, está financiando empresas de menor porte. Isto não leva o BC a temer uma maior inflação? Na verdade, a preocupação maior do BC não é com o crescimento do crédito e sim com o impacto que isso terá nos preços. Até o momento, com a economia crescendo num ritmo saudável - as estimativas variam de 4,5% a 5% -, não tem havido nenhum impacto na formação de preços. Acredito que este crescimento é positivo, com inclusão de vários segmentos da sociedade e acesso de mais empresas ao crédito e sem impacto na inflação. Quero destacar também que tem havido um alongamento dos prazos médios na concessão de crédito. Em 2002, o prazo médio das operações de crédito era de 220 dias e agora está em 320 dias. Subiu bastante e é justamente isso que está permitindo que o crédito atinja uma camada da população mais ampla. E quanto ao spread bancário? Em relação à sempre famosa discussão sobre spread bancário, é importante notar que nesse mesmo período, de 2002 para cá, ele caiu de 54% para 37%, no caso de pessoa física, e de 16% para 13%, no caso de pessoa jurídica. Ou seja, o spread tem caído, embora existam duas pressões para que suba: prazo mais longo do crédito e entrada no mercado de clientes de renda mais baixa e de empresas de menor porte. Isso ocorre porque os juros estão caindo e as condições regulatórias são melhores. Encontraríamos uma queda mais representativa se comparássemos empresa por empresa. Existe uma distorção na média pelo fato de termos empresas de maior risco entrando no mercado de crédito bancário e empresas de menor risco saindo rumo ao mercado de capitais. Com isso, você mexe um pouco no perfil do tomador de crédito. Saem as empresas de primeiríssima linha e entram as empresas de pequeno e de médio portes, que representam risco maior. O que você acha da política de direcionamento do crédito? O direcionamento de crédito na verdade deveria existir como conceito. Veja o que aconteceu com o crédito imobiliário. De 2004 a 2007, vem crescendo 50% em média. Por quê? Porque o marco regulatório foi ajustado de forma a dar aos agentes financeiros condições de fazer esses empréstimos. Muitas vezes, o direcionamento de crédito é feito porque as condições não estão mais adequadas. Acertando condições, você consegue uma evolução muito maior do que por meio de direcionamento. A questão de direcionamento pode ser mais bem resolvida se trabalharmos na causa do por que aquele direcionamento teve que ser feito. Também tem crescido bastante o crédito consignado e o financiamento de veículos, que têm uma coisa em comum: estrutura bem montada e garantias bem claras. A estrutura da operação é muito simples e sólida. O compulsório no Brasil chega a 54% dos depósitos à vista. O Brasil é único nesta modalidade? O compulsório existe em vários lugares no mundo. No Brasil, ele representa um porcentual maior do que em outros mercados. Mas depósito compulsório é uma questão de política monetária. O próprio nome, compulsório, mostra que não cabe questionamento. É óbvio que, do ponto de vista do sistema financeiro, a redução do porcentual significaria maior disponibilidade para empréstimos. Coisa positiva, mas que tem implicações de política monetária. Portanto, cabe ao BC decidir e não aos bancos. O que o senhor acha da confusão sobre a meta de inflação para 2009? Ela é de 4,5% ou de 4%? A princípio houve uma dificuldade de entender o que estava sendo proposto. Agora ficou claro que o BC deve buscar uma meta de 4,5%, mas que uma meta inferior será vista com bons olhos. O mais importante é ter consenso de que mais inflação não traz mais crescimento. Essa pressuposição já se mostrou falsa no passado. Você acha que essa decisão de 4,5%, maior do que a perspectiva do mercado hoje, pode elevar as expectativas de inflação? Acho que a variação, no fundo, é pequena para que leve os agentes econômicos a pensarem que é possível acomodar uma inflação maior. De qualquer maneira, requer uma atenção redobrada. Num primeiro instante, o mercado financeiro ficou agitado. Mas, no segundo instante, já começou a se acalmar. A idéia de que a gente vai trabalhar com uma meta de 4,5%, levando em conta que se o número ficar abaixo disso será bom, começa a ser aceita no mercado. A expectativa é de que isso continue, sem causar muita turbulência.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.