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Fed e Bush agem e mercados ficam mais tranqüilos

Bolsas reagem com forte valorização, mas analistas avisam que a crise pode não ter acabado

Por Leandro Mode
Atualização:

O pacote lançado pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para ajudar compradores de imóveis, e um discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, fizeram o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparar 3,37% ontem. Com o resultado, o indicador reverteu as perdas que acumulava até 30 de agosto e subiu 0,84% no mês. No ano, o Ibovespa tem alta de 22,85% e, em 12 meses, de 50,80%. Bush anunciou que os detentores de hipotecas que estejam com as prestações atrasadas em mais de 90 dias poderão refinanciá-las com a ajuda da Agência Federal da Habitação (FHA, na sigla em inglês). Bernanke abriu a conferência anual do Fed de Kansas City. Na avaliação da maioria dos analistas, seu discurso aumentou a chance de um corte da taxa básica de juros - de 5,25% para 5% ao ano - na próxima reunião do BC americano, em 18 de setembro. "De um lado, o Fed se aferra aos seus princípios, assegurando que criará a confiança necessária. De outro, o governo federal entra com uma rede de segurança. Isso ajuda as pessoas a, quem sabe, enxergar o fim da crise", disse Jim Paulsen, presidente de investimentos da Wells Capital Management. As bolsas de valores mundiais reagiram bem às duas informações. Em Nova York, o Índice Dow Jones avançou 0,90% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 1,21%. O Índice FTSE 100 da Bolsa de Londres valorizou 1,47% e o Xetra DAX ,da Bolsa de Frankfurt, 1,57%. O dólar recuou 0,56%, para R$ 1,963, e o risco Brasil despencou 4,4%, para 195 pontos. Apesar do avanço do real ontem, a moeda americana subiu 4,3% em agosto e liderou o ranking dos investimentos do mês. Para analistas do mercado financeiro, o arrefecimento da crise financeira nas últimas duas semanas não significa que as turbulências acabaram. "Crises são assim mesmo. Num primeiro momento, os mercados despencam. Depois, ficam voláteis, como tem ocorrido", disse o estrategista de investimento sênior para a América Latina do Banco West LB, Roberto Padovani. Na avaliação dele, dois fatores são chave para determinar as tendências de longo prazo. O primeiro deles é a reunião do Fed, em setembro. "Os mercados estão contando com um corte da taxa de juros e incorporaram essa certeza aos preços dos ativos", comentou. "No discurso de hoje (ontem), Bernanke quis justamente sinalizar para o mercado que essa redução não está garantida." O outro fator citado por Padovani diz respeito aos balanços das instituições financeiras no terceiro trimestre. "Uma das características dessa crise é a falta de informação", disse. "Os balanços vão esclarecer o impacto dos problemas nos resultados dos bancos." A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, concorda. "A maneira pela qual essa crise vai se desenvolver dependerá da evolução de seus efeitos ao longo da cadeia financeira", afirmou. "É preciso identificar onde houve mais ou menos contágio", observou. Sandra também vê a reunião do Fed como um evento fundamental para orientar as tendências dos mercados nos próximos meses. Mas, ao contrário do economista do WestLB, ela está convencida de que o BC americano reduzirá a taxa básica para 5% ao ano. "Acreditamos que o Fed reduzirá o juro em outras duas ocasiões neste ano, levando a taxa para 4,5% em dezembro", disse.

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