Com os preços das commodities nas alturas e o risco Rússia/Ucrânia elevadíssimo, não sobra espaço ao Fed a não ser apertar decisivamente a política monetária, apesar dos instintos acomodatícios do presidente da instituição. Nos últimos dias, os novos dados do Índice de Custo de Vida e do de Preços ao Produtor mostram que a inflação americana não só é a mais alta dos últimos muitos anos como está muito disseminada entre todos os grupos de preços. A propósito, acho que nunca existiu uma situação na qual o índice de difusão (isto é, a porcentagem da categoria de produtos cujos preços se elevaram no último mês) fosse maior nos Estados Unidos do que o índice de Preços ao Consumidor brasileiro.
No curto prazo, acredito que só exista um elemento para aliviar o mercado de petróleo, que decorreria de um eventual resgate do acordo nuclear EUA/Irã, ora em discussão. Se este entendimento acontecer, o Irã poderá elevar a oferta de petróleo no curto prazo em mais de 1 milhão de barris por dia, o que concorreria para acomodar em alguma medida a situação.
Entretanto, é absolutamente certo que a Rússia não vai parar de trabalhar a favor da crise com demonstrações de força, como o anúncio de mais um exercício militar em larga escala, agora com a utilização de equipamentos nucleares. Esse anúncio foi cuidadosamente colocado após uma contestada notícia de redução de efetivos na fronteira da Ucrânia e logo antes do fim, neste domingo, dos exercícios realizados com a Belarus. Também é certo que o largo estoque de ferramentas de guerra suja deverá continuar a ser utilizado, desde ataques cibernéticos até movimentos provocativos no solo ucraniano.
Voltando ao Fed, com a inflação difundida e a correta observação de andar sempre atrás da curva, ser “dovish” neste momento não é mais uma opção.
É neste cenário que se insere a amadora viagem do presidente à Rússia, apenas para tirar fotos e tropeçar nas palavras, ao sugerir um alinhamento completo com Putin, o que afronta diretamente o mundo ocidental. É a coroação de uma desastrosa política externa que ainda vai custar muito caro ao Brasil.
P.S.: Ainda a propósito de meu último artigo, chamo a atenção para o relatório do Financial Stability Board (FSB) divulgado logo antes da reunião do G20 desta semana.
Lá está escrito que “os mercados de criptomoedas estão avançando rápido e podem chegar ao ponto de representar uma ameaça para a estabilidade financeira global”. Vem regulamentação por aí.
ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS