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Feliz recuperação versus recuperação anêmica

Por Paul A. Samuelson e TRIBUNE MEDIA SERVICES
Atualização:

A questão fundamental que preocupa economistas, governo e a classe média é: "A recuperação da crise nos Estados Unidos deve ocorrer antes do fim de 2009?". Ou pelo menos chegará no inicio de 2010?" Observadores na Europa, Ásia e América do Sul estão esperançosos de que a locomotiva dos EUA comece a estimular a demanda global. Para surpresa de muitos macroeconomistas, como nós, até agora o índice de preços das ações em todo o mundo resistiu às liquidações provocadas pelos mercados em baixa. Sim, os preços no mercado imobiliário continuam caindo em relação às grandes altas anteriores ao estouro da bolha, a novas construções de casas, escritórios e fábricas ainda não estão crescendo numa base liquida, os enganadores informes otimistas de lucros, tanto de bancos como seguradoras e corporações, ainda vêm sendo seguidos de déficits reconhecidos de realizações de lucros. É lógico que os preços globais das ações despenquem num mercado em baixa. E em 2008 e 2009 isso não ocorreu com frequência. Não obstante, nestes últimos meses de 2009 houve um aumento considerável do preço das ações, que subiram para níveis anteriores ao colapso financeiro. Recuperações prematuras foram raras na história econômica. Após o colapso de Wall Street de outubro de 1929, foram necessários anos e mesmo décadas para o Índice Dow Jones retomar os picos de 1929. Quanto a isso, não há muito mistério. O que tem sido muito diferente da inação do presidente Hoover em 1929 são as intervenções não ortodoxas do chairman do Federal Reserve, Ben Bernanke, com foram as do chefe do Tesouro do presidente Bush, Henry Paulson. Eles injetaram dinheiro do governo numa escala sem precedentes nas instituições financeiras em dificuldades. Quando as várias centenas de bilhões de dólares colocadas não foram suficientes, injetaram ainda mais. Devo fazer um parêntese aqui para elogiar o chairman Bernanke por sua flexibilidade. No início do seu trabalho à frente do Fed, Bernanke concentrou-se principalmente na importância do controle da inflação e da transparência. Contudo, em mais que um salto quântico para uma ação pouco ortodoxa do BC, seu foco mudou com vistas a escorar uma sociedade esmorecida. O ex-chairman Alan Greenspan teria também agido de modo rápido e flexível? Nunca vamos saber. Com a vitória esmagadora do Partido Democrata em 2008 e com o candidato Barack Obama, o Federal Reserve teve o apoio do Congresso e das agências executivas. A boa e diversificada equipe do presidente Obama alcançou uma vitória rápida sobre o desemprego e os gastos cada vez menores dos consumidores e da indústria? Claro que não. Roma não foi construída num dia. Nos anos tempestuosos de 1933-1939, o New Deal de Franklin Roosevelt precisou de mais tempo para acabar com as depressões herdadas de 1929 e 1933. Volto ao atual cenário de 2009, aqui nos EUA e nos três outros continentes. Até agora, os EUA parecem sair mais rápido da linha de largada do que a União Europeia. O Banco da Inglaterra começou a agir, mas só depois de alguma hesitação. O Banco Central Europeu, com um pouco de atraso, cortou de maneira significativa as taxas de juro de curto prazo. Quando se fala quase só de más notícias, em termos universais, é bom chamar atenção para algumas nações que conseguiram evitar um colapso financeiro e um grande declínio econômico da classe média. Dois bons exemplos são a Noruega e o Chile. Quando o petróleo do Mar do Norte propiciou enormes receitas à Noruega, o país economizou para o futuro. Da mesma maneira, quando os preços do cobre enriqueceram o Chile, o país reservou esses lucros extraordinários obtidos. Irlanda e Islândia, pelo contrário, agiram com extravagância nos anos que antecederam a bolha. Numa terça-feira, os islandeses eram as pessoas mais felizes do mundo, na quinta-feira eram as mais miseráveis, quando seus grandes bancos quebraram. Na Irlanda e Espanha, a população aprendeu do modo mais duro a lei de Newton: tudo o que sobe desce. No momento, apesar do continuado fluxo de dificuldades, as mais diversas, Bernanke espera que essa recessão acabe no fim de 2009 ou logo depois. Não é o único. Muitas corretoras que trabalham com ações e títulos compartilham da mesma ideia. Minhas próprias expectativas são mais cautelosas. Pode haver aumento no Produto Interno Bruto Real proximamente, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica poderá um dia declarar que nossa recessão acabou no fim de 2009. Mas, quando esse final ocorrer, não poderá ser seguido de uma debilidade persistente, tanto no campo do emprego como no do dinheiro que poderia ser gasto por consumidores e investidores, e também uma cascata contínua de falências? Qualifique isso como o padrão japonês de 1990-2009 de "décadas perdidas". Se a nossa próxima recuperação for débil, os livros de história trarão uma imagem deprimente dos dois mandatos de George W. Bush. * Paul A. Samuelson é economista e ganhou o Nobel de Economia em 1970

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