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Feriado bancário e cambial na Argentina é prorrogado

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central argentino, Mario Blejer, anunciou na noite desta terça-feira a prorrogação por mais dois dias do feriado cambial que vigora no país desde segunda-feira. O feriado bancário, que no primeiro dia da semana foi total e hoje parcial, continuaria nesta quarta-feira com autorização para algumas operações, como o pagamento de proventos de aposentadorias e pensões e as retiradas de dinheiro em contas de salário. A paralisação das atividades cambiais permaneceria de forma plena até quinta-feira, podendo ser estendida até segunda-feira. Com essa decisão, os argentinos terão de esperar um pouco mais para conviver com uma moeda nacional, o peso, que flutuará livremente em relação ao dólar, pela primeira vez, em quase 11 anos. Nos últimos dias, tornou-se crescente o temor no governo e entre analistas de que uma disparada do dólar nos primeiros dias de câmbio livre. Tudo indicava que o prolongamento do feriado cambial estaria sendo causado pela falta de definições entre o governo e os bancos sobre a limitação para que as entidades financeiras vendam dólares. Nos últimos dez anos e meio, os bancos venderam livremente dólares aos argentinos. No entanto, o governo pretende deter ou limitar drasticamente o fluxo da moeda americana, como forma de impedir que o dólar dispare nos próximos dias, a partir da livre flutuação. Essa disparada seria causada em parte pela liberação das contas correntes nas quais são depositados os salários, pensões e indenizações trabalhistas. Isso deverá ser oficializado hoje por meio de decreto presidencial que estabelecerá uma leve flexibilização do "corralito", denominação popular do semicongelamento de depósitos. A flexibilização do corralito foi anunciada no domingo à noite pelo ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. A liberação colocaria nos próximos dias mais de 3 bilhões de pesos (US$ 2,1 bilhões) no mercado. Os analistas consideram que a conjugação do início do câmbio livre com a liberação dos salários poderia ser explosiva. O peso, a moeda nacional, tem pouco prestígio entre os argentinos, que há mais de três décadas poupam em dólares. O sucesso do plano de Remes Lenicov depende em grande parte de que os habitantes deste país deixem de pensar na moeda americana e aceitem o peso. "A desdolarização mental dos argentinos vai levar muito, muito tempo", afirmou nesta terça-feira o analista econômico Rubén Rabanal. O economista Manuel Solanet, da Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas (Fiel), declarou que não consegue imaginar "como poderá funcionar uma economia com uma moeda na qual os argentinos não acreditam e que não utilizam como reserva de valor". O vice-ministro da Economia, Jorge Todesca, admitiu que levará anos para que a confiança dos argentinos em relação à moeda e ao sistema financeiro seja recuperada. Todesca declarou que o consumo interno é "impossível de recuperar" e que a saída para a Argentina será o tipo de câmbio competitivo, que permitirá uma expansão das exportações. Uma das especulações indicava que até as casas de câmbio seriam obrigadas a um limite de venda de US$ 1 mil por pessoa. Quem quiser comprar uma quantia maior terá de apresentar uma justificativa. Além disso, o governo planejava obrigar os exportadores de cereais a passarem pelo Banco Central os dólares obtidos com as exportações do produto. Anualmente, esses exportadores obtêm cerca de US$ 8 bilhões, ou seja, um terço das divisas do país. O BC devolveria aos exportadores a quantia equivalente, mas em desprestigiados pesos. Nesta terça-feira, o mercado paralelo cotava a venda de cada dólar em 2,30 pesos para a venda. Analistas prevêem que o dólar poderia facilmente ultrapassar a barreira dos 3 pesos nos próximos dias. Segundo eles, com a limitação da venda de dólares, será inevitável a proliferação das "cuevas" (cavernas), escritórios no centro de Buenos Aires dedicados ao comércio clandestino da moeda americana, além dos vendedores ilegais "autônomos" conhecidos como "arbolitos" (pequenas árvores), que ficam em pé nas ruas oferecendo as cobiçadas cédulas verdes. A polícia promete combater os vendedores clandestinos de dólares. No entanto, os especialistas neste comércio sustentam que "los perejiles" ("os salsinhas", gíria equivalente a "otários") poderão ser detidos, mas os grandes negociadores do mercado paralelo costumam pagar abundantes comissões à polícia e livrar-se de problemas com a Justiça. Leia o especial

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