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Ferrovias de carga podem esgotar capacidade em 2005

Por Agencia Estado
Atualização:

As ferrovias de carga devem chegar ao limite da sua capacidade de transporte em 2005 caso não haja investimentos na ampliação da sua infra-estrutura. A estimativa é do diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Bernardo Figueiredo. De acordo com ele, o País não tem novos projetos de construção de ferrovias. Além disso, segundo Figueiredo, os investimentos das concessionárias serão limitados, já que elas estão cada vez mais "com a corda no pescoço" pela dificuldade de obter financiamentos e pela alta do dólar. Por causa disso, o setor discute com técnicos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a formação de um fundo de aval para facilitar as garantias para obtenção de crédito e financiamentos. De acordo com a ANTF, sucessivas crises econômicas dificultaram o crescimento das concessionárias da malha da Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA) a partir de 1996, quando foi assinado o primeiro contrato de concessão. Segundo Figueiredo, o setor se expandiu menos do que o desejável, tanto que ainda trabalha com um um terço da produtividade das ferrovias dos EUA. Os trens nacionais andam a velocidades médias de 20 km por hora, enquanto os americanos chegam a 80 km/hora. Mesmo assim, o setor tem crescido 6% ao ano em termos de volume transportado, em média. Ou seja, mais do que a economia brasileira. "Se for mantido esse ritmo, já em 2005 as ferrovias vão bater no teto", afirma Figueiredo. Sem planos Segundo Figueiredo, 90% da infra-estrutura ferroviária de carga do Brasil é do século 19 e o governo federal não tem planos de ampliação da malha. Atualmente, há apenas duas ferrovias de carga em construção: a Ferronorte, ligando o Mato Grosso a São Paulo; e a Ferrovia Norte Sul, entre o Maranhão e Tocantins. De acordo com estudo da Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as ferrovias de carga carregaram, em 2000, 155 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU), 20% a mais do que em 1996. Figueiredo afirma que esta expansão foi consequência da privatização do setor. Mas alerta que as empresas estão com capacidade cada vez mais limitada para investir por causa da alta do dólar, que incide sobre os investimentos nos trilhos e no material rodante (vagões e locomotivas). "O material importado representa um custo financeiro grande", reclama o presidente da MRS Logística (concessionária da Malha Sudeste), Julio Fontana Neto. "Por isso só dá para comprar locomotiva usada; nova, nem pensar". A indústria de equipamentos ferroviários do Brasil já não fabrica locomotivas nem trilhos, apenas vagões, explica. Ferronorte Segundo o presidente da Brasil Ferrovias, Nelson Bastos, a Ferronorte já nasceu saturada: mal consegue atender à demanda atual por transporte de grãos, principalmente de soja. "Tem mais carga do que conseguimos transportar", afirma. Bastos declarou que a saída para ampliar a capacidade tem sido a formação de parcerias entre a Ferronorte e as esmagadoras de soja, como ADM e Cargill. A ADM, por exemplo, deve assinar em breve um acordo para alugar vagões e colocá-los para rodar na Ferronorte e na Ferroban, levando soja do Mato Grosso até o Porto de Santos. Segundo Bastos, a empresa continuará a pesquisar formas para permanecer em expansão: "Estamos condenados a crescer", brinca. Os executivos participaram esta semana do 3º Seminário Fiesp de Ferrovias, em São Paulo.

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