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FGV atribui deflação do IGP-M à crise externa

Por ALESSANDRA SARAIVA
Atualização:

O cenário internacional ainda turbulento, aliado a uma redução no ritmo da atividade industrial brasileira levaram à deflação de 0,58% apurada na segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de janeiro. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, esses fatores conduziram a queda de 1,37% nos preços industriais atacadistas, responsáveis pela taxa negativa de 1,09% no Índice de Preços por Atacado (IPA) - que representa 60% do IGP-M, e foi a maior contribuição para a formação da taxa da segunda prévia. O economista explicou que o setor industrial no atacado, atualmente, é influenciado por dois fatores. O primeiro é a recessão mundial, causada pela crise global, que derrubou os preços das matérias-primas (commodities) no exterior, e de alguns outros itens no mercado internacional, relacionados ao mercado doméstico brasileiro. Isso pode explicar as quedas, no atacado, nos preços de produtos de origem química (-3,12%); produtos químicos orgânicos; derivados de petróleo (-1,44%) e produtos siderúrgicos (-0,89%), na segunda prévia do IGP-M. Mas, embora o economista classifique como preponderante a influência do cenário internacional nas quedas registradas nos preços atacadistas, dentro do setor industrial doméstico, ele admite que somente esse fator não explica a abrangência das deflações no setor industrial. "Também há sinais de quedas de preços que foram provocadas por recuo na atividade industrial doméstica", comentou. O exemplo mais forte desse recuo na atividade é o setor automotivo. Somente os preços de automóveis para passageiros caíram 9,41% na segunda prévia do IGP-M em janeiro, após subirem 0,82% em igual prévia em dezembro. Quadros lembrou a recente redução do IPI para automóveis, que ajudou a derrubar os preços dos veículos no início do ano. Mas observou que a magnitude da queda de preços dos automóveis foi muito mais intensa do que a que poderia ser gerada pela redução no imposto. "O que ocorre no setor automotivo tem mais a ver com a situação do setor, no mercado doméstico, do que com o cenário internacional", disse. Mas o economista negou que a abrangência nas quedas de preços industriais no atacado já seja indício de recessão forte na economia brasileira. "O que está ocorrendo agora no atacado tem mais a ver com a recessão mundial do que com o cenário brasileiro", frisou o economista. Sobre o varejo, Quadros comentou que a aceleração na taxa do Índice de Preços ao Consumidor (IPC, de 0,54% para 0,59%) foi influenciada por aumento mais intenso nos preços de cursos formais (1,68%). Mas acredita que essa alta não é duradoura. Muitos produtos agropecuários estão em queda no atacado, e isso deve ser repassado para os alimentos no varejo, em algum momento. Os preços agropecuários atacadistas caíram 0,31% na segunda prévia de janeiro. O IGP-M fechado de janeiro deve ficar com taxa negativa, na análise do coordenador de Análises Econômicas da FGV. Ele lembrou que a segunda prévia do índice já mostra deflação expressiva, de 0,58%, e seria difícil não mostrar resultado de queda em seu resultado final, que será anunciado em 29 de janeiro. Em dezembro, o IGP-M também registrou queda de 0,13%. Para o economista, esse provável resultado negativo do índice, em um mês como o de janeiro, quando os índices inflacionários são impulsionados para cima devido a fatores sazonais, como aumentos nos preços de itens in natura, e pagamento de mensalidades escolares, é algo inusitado. Segundo a série histórica disponibilizada pela FGV, caso o IGP-M encerre o mês com taxa negativa, será a primeira deflação registrada para um mês de janeiro na história desse índice, iniciada em 1989. Quando questionado se resultados como esse não poderiam afetar a postura do Banco Central em relação à sua decisão sobre o patamar da taxa básica de juros (Selic), ele comentou que desempenhos como esse sinalizam uma movimentação de preços bem mais comportada. "Isso parece mostrar que o caminho para a inflação nos próximos meses está bastante desobstruído", disse. Na avaliação do economista, esse tipo de percepção poderia abrir espaço para o BC proceder cortes mais "ousados" na Selic, atualmente em 13,75%. Entretanto, ele voltou a destacar que a postura do banco sempre foi mais conservadora no que se refere à Selic, e que não acredita que o BC possa efetuar um corte brusco "sem preparar o terreno antes". Para Quadros, o banco sempre primou por cortes gradativos na taxa básica de juros, e o cenário positivo que a inflação tem mostrado pode não ser suficiente para o BC mudar esse tipo de postura.

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