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FGV: disparada de alimentos atingiria os mais pobres

Por ALESSANDRA SARAIVA
Atualização:

Caso ocorra uma disparada nos preços dos alimentos este ano, a camada mais pobre da população brasileira sofrerá o pior impacto da inflação alta em seu orçamento familiar. A conclusão é partilhada pelo economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz; e pelo coordenador de Análises Econômicas da fundação, Salomão Quadros. Hoje, a instituição lançou o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), calculado com base nas despesas de consumo das famílias com renda de 1 a 2,5 salários mínimos (R$ 415 a R$ 1.037). Segundo os economistas, com base nesse novo índice, é possível perceber que quase 40% do orçamento familiar das famílias nessa faixa de renda está comprometido com a compra de alimentos. Essa participação é de 27% entre famílias com renda entre 1 e 33 salários mínimos (R$ 415 e R$ 13.695). "Cerca de 80% dos domicílios pesquisados em sete capitais para o IPC-BR (Índice de Preços ao Consumidor - Brasil, que abrange famílias entre 1 e 33 salários mínimos) estão nessa faixa de renda, entre 1 e 2,5 salários mínimos", disse Braz, considerando que essa faixa da população é uma espécie de base da pirâmide. O aumento nos preços dos alimentos nos últimos dois anos também pôde ser sentido, de forma mais expressiva, por essa camada de população mais pobre. Segundo Braz, de abril de 2006 até março de 2008, o IPC-C1 acumula elevação de 9,65% - enquanto o IPC-BR, no mesmo período, registra taxa acumulada de 7,36%. "No acumulado de 2004 para cá (até março de 2008), o IPC-C1 subiu 19,21%, e o IPC-BR, 18,61%", completou o economista. Ele observou que, dos dez produtos de maior peso no cálculo do IPC-BR, nenhum é de alimentação - enquanto no IPC-C1, três alimentos ocupam posição destacada. Para Quadros, esse cenário reflete ainda o comportamento das commodities agrícolas, nos últimos dois anos. Isso porque muitos produtos alimentares da cesta básica são derivados de commodities importantes, como a soja, o trigo e o milho. Ele comentou que, de dezembro de 2006 para fevereiro de 2008, os preços das commodities em geral em dólar subiram 32,9%. Mas ao se analisar somente as commodities agrícolas, os preços desse tipo de produto subiram quase o dobro: 61,1%. "Somente a soja, no mesmo período, subiu 106,9%", afirmou. O coordenador alerta que essa questão dos alimentos, em escala global, apresenta em uma relação de oferta e demanda que vem se desequilibrando. "A demanda mundial (por alimentos) tem crescido de forma expansiva", afirmou, comentando que esse problema ultrapassa as análises sobre inflação, tornando-se uma questão que pede um debate mais abrangente.

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