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FGV: expectativa para 6 meses é a pior da história

Por Anne Warth
Atualização:

As expectativas da indústria para os próximos meses atingiram o pior nível de todos os anos, aponta a Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador "situação dos negócios para os próximos seis meses", um dos itens que compõe o Índice de Confiança da Indústria (ICI), chegou aos 87,7 pontos, o pior desde o início da coleta desse dado, em 1995. Os trabalhadores são os que mais têm motivos para se preocupar no início do próximo ano. A má notícia está relacionada ao indicador "emprego previsto", que encerrou o mês em 83 pontos, o pior desde abril de 1999, quando atingiu 81 pontos. Do total de empresários consultados, quase um terço (32,5%) prevê demissões nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Há apenas seis meses, em junho, a tendência era exatamente inversa - 35,7% dos empresários previam contratações. O indicador "produção prevista" ficou em 90,9 pontos, o menor desde janeiro de 1991 (79,4 pontos). Embora o indicador esteja entre os mais voláteis da pesquisa, ele costuma antecipar os dados apurados pelo IBGE. Do total de empresários consultados, 33,8% prevêem uma produção menor nos próximos meses. A velocidade das mudanças em relação ao que os empresários esperam para os próximos meses surpreendeu. Há apenas quatro meses, em agosto, as expectativas da indústria para os próximos seis meses atingiram 156 pontos, muito próximas do recorde histórico do indicador, de 157,6 pontos, de julho de 2000. Os indicadores do levantamento da FGV variam de 0 a 200 pontos, sendo que 100 indica estabilidade, números abaixo mostram pessimismo e números acima demonstram otimismo. Dos empresários consultados, 37,6% acreditam que a situação de seus negócios vai piorar nos próximos seis meses, e 25,3% pensam que o cenário irá melhorar. O restante respondeu que a situação permanecerá a mesma do quadro atual, o que tampouco indica um quatro otimista, já que o índice "situação atual dos negócios" ficou em 69,9 pontos neste mês, o mais fraco desde julho de 2003 (64,6 pontos). Produção desacelera Para o coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Aloisio Campelo, os dados indicam que a atividade industrial, que já mostrou desaceleração nos últimos meses (pelo IBGE, houve queda de 1,7% em outubro ante setembro), deve manter um ritmo fraco no início de 2009. "Os empresários não estão se programando para aumentar a produção até janeiro", disse ele. Campelo ressaltou que todos os indicadores da Sondagem Industrial da FGV têm mostrado queda nos últimos três meses. "Os resultados da pesquisa de hoje são equivalentes a dados apresentados em 1998, 2001 e 2003, quando a produção industrial registrou queda na produção, e não apenas uma desaceleração. Parece inequívoco que a indústria entrará no negativo já em novembro", explicou. As últimas vezes que isso ocorreu foram em 2003, pouco depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando houve um ciclo de alta da taxa básica de juros para conter a valorização do dólar, e em 2001, durante o racionamento de energia. Na avaliação de Campelo, o ciclo de crescimento da indústria brasileira, praticamente ininterrupto nos últimos cinco anos e o maior desde a década de 1970, vai se reverter no quarto trimestre deste ano. "Pelo que captamos na pesquisa, haverá uma retração significativa em relação à produção industrial do mesmo período do ano anterior", acrescentou. Segundo a FGV, o ICI tem uma aderência de 77% em relação ao dado da produção física do IBGE. Recessão Pela análise dos dados, Campelo disse ser improvável, no entanto, que o País entre em recessão nos próximos meses. A indústria representa entre 20% e 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Serviços, por sua vez, que é praticamente 60% do PIB, é um setor que costuma desacelerar menos, e o comércio funciona da mesma forma. "Serviços e comércio são altamente influenciados pelo consumo interno. E apesar do pessimismo em relação ao emprego, a massa salarial aumentou em dezembro na comparação com o mesmo mês de 2007", observou.

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