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FGV: preços industriais têm maior queda em 2 anos

Por ALESSANDRA SARAIVA
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A forte deflação no setor industrial atacadista neste mês (de 0,22%) levou à desaceleração intensa vista na taxa do Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) de dezembro, em comparação com o mês anterior. O IGP-10 divulgado hoje apontou inflação de 0,03%, contra 0,73% em novembro. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, a queda de preços no setor industrial neste mês foi a mais expressiva desde outubro de 2006 (quando a deflação foi de 0,29%). "Não é comum o setor industrial apresentar queda de preços", afirmou. De acordo com o economista, houve uma disseminação de quedas e desacelerações de preços industriais notadamente voltados para exportação. É o caso das movimentações de preços registradas em produtos alimentícios e bebidas (de 0,90% para -0,15%); produtos químicos (de 4,23% para -2,12%); bovinos (de -1,07% para -2,19%); produtos siderúrgicos (de 0,24% para -0,05%); e celulose (de 4,86% para 2,01%). Embora admita que os efeitos da crise internacional tenham atingido alguns segmentos voltados para o mercado interno, reduzindo a demanda e, por conseqüência, derrubando preços, Quadros comentou que o impacto de recuo na demanda nos setores exportadores foi muito mais intenso. A diminuição na demanda internacional provocou uma oferta maior de itens no mercado doméstico, itens esses que normalmente são exportados, conduzindo a uma relação de demanda menor do que a oferta no mercado interno. Isso levou às quedas e desacelerações de preços, afirmou. O setor industrial representa quase três quartos da composição da inflação do setor atacadista, que por sua vez representa 60% do total dos IGPs. Além dos setores mais voltados para exportação, Quadros também informou que houve quedas e desacelerações de preços em itens relacionados direta ou indiretamente à cotação do barril de petróleo no mercado internacional - que caiu fortemente por causa da crise mundial. É o caso da deflação registrada em produtos derivados do petróleo e do álcool no atacado (de 1,94% para -2,80%). Varejo A inflação do varejo deve sofrer em breve o impacto do repasse de várias quedas e desacelerações de preços que ocorrem agora no atacado, avalia Quadros. De acordo com ele, a aceleração dos preços varejistas de novembro para dezembro (de 0,49% para 0,62%) detectada pelo IGP-10 é passageira. "Muitos itens que estão em queda no atacado já deveriam estar provocando repasses de reajuste no varejo. Isso não aconteceu ainda, mas vai acontecer", afirmou. Entre os exemplos de quedas e desacelerações de preços no atacado que podem ser "transmitidas" para a inflação do consumidor, Quadros citou a do açúcar cristal (-0,51%); carne bovina (-1,61%); arroz beneficiado (-4,60%); trigo (-7,49%); e feijão (-19,87%). O economista comentou que esses itens têm uma longa cadeia de derivados no varejo, e são de grande peso na formação da inflação varejista. Sobre a "demora" em repassar preços em queda e em desaceleração do atacado para o varejo, principalmente no setor de alimentos, Quadros admitiu que o varejista pode estar retardando esses reajustes para recompor suas próprias margens de ganho. "Em algum momento isso (o impacto das desacelerações e quedas de preços) deve ser repassado para o consumidor", ressaltou. 2008 A inflação de 2008 mensurada pelo IGP-10 foi conduzida pela flutuação de preços do atacado, mais notadamente pelo setor industrial, na análise do coordenador de Análises Econômicas da FGV. O IPA-10 fechou o ano com alta de 11,49%, sendo que a inflação do setor industrial ficou em 13,95% em 2008. De acordo com o economista, um dos destaques de aceleração de preços no setor industrial foi o comportamento do minério de ferro, que subiu muito este ano. Entretanto, ao tentar delinear a trajetória dos preços industriais para os próximos meses, Quadros comentou que a inflação no setor não deve continuar em trajetória ascendente no curto prazo. Isso porque o recuo na demanda internacional, ocasionada pela crise dos mercados internacionais, afetou principalmente os setores industriais do Brasil voltados para as vendas externas. Na prática, isso levou à deflação (-0,22%) nos preços industriais em dezembro, devido ao cenário de oferta maior do que demanda. Ou seja: o quadro nos preços industriais, que representam quase três quartos da inflação atacadista, é de quedas e desacelerações disseminadas, e esse cenário deve permanecer, pelo menos até o início do ano que vem. Entretanto, o economista não acredita que, mesmo neste ambiente, as taxas mensais dos IGPs estejam se posicionando em trajetórias similares à experimentada pelo IGP-10 de dezembro, anunciado hoje e que subiu apenas 0,03%. "O que aconteceu em dezembro foi um ajuste para baixo, e ajustes não ocorrem todo o mês", alertou. "Além do mais, a deflação no setor industrial (em dezembro) foi resultado de uma combinação de um movimento forte de queda nas commodities industriais com um movimento fraco de desvalorização cambial", afirmou, explicando que a inflação pode registrar taxas não muito elevadas, mas dificilmente iguais ou menores do que 0,03%. Ao comentar sobre a possibilidade de inflação mais baixa em 2009, ele lembrou que a probabilidade de uma recessão mundial torna-se cada vez mais real, e ainda "não deu sinal de que está chegando ao fim". "A desaceleração está se espalhando pela economia brasileira. Com isso, pelo menos no curto prazo, creio que a tendência da inflação seja de recuo", comentou.

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