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Fiascos do intervencionismo

Por Suely Caldas
Atualização:

Depois de um longo tempo na encolha, escondendo a realidade, o governo da Venezuela finalmente abriu os números da economia. Segundo o Banco Central, em 2015 a inflação atingiu 180,9% e o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 5,7%. O Brasil não chegou a tanto, mas, em comparação com outros países emergentes, nosso desempenho é também vergonhoso: em 2015 a inflação saltou para 10,67% e o IBGE só divulga o PIB em março, mas o Banco Central já sinalizou que o tombo vai ultrapassar 4%. Dois países prontos para seguir caminhos de progressivo desenvolvimento, mas que nos últimos anos empacaram, andaram para trás, jogaram fora conquistas do passado recente. O que aconteceu? Por que Venezuela e Brasil regrediram? Por que brasileiros e venezuelanos vivem hoje a tragédia do desemprego, do desinvestimento, do aumento da pobreza e do dinheiro amputado pela inflação?

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Nos últimos nove anos (exceção feita ao primeiro mandato de Lula) Lula, Dilma Rousseff, Hugo Chávez e Nicolás Maduro submeteram seus países a experimentos ideológicos primários, ultrapassados e fracassados, que levaram os dois países a mergulharem no angustiante caos econômico de um horizonte sem esperança de melhora em futuro próximo e as contas públicas a uma barafunda de rombos fiscais, com multiplicação de gastos ineficientes e muito desperdício. A corrupção fez o resto. Agora, Dilma e Maduro tentam convencer a população de que vão corrigir seus erros, organizar a economia, concretizar investimentos e voltar a crescer. Mas erraram tanto e continuam carregando os mesmos fracassados ranços ideológicos que ninguém mais acredita que serão capazes de comandar uma revirada na economia.

Na Venezuela falta tudo: alimentos, remédios e até algodão e papel higiênico. As prateleiras de supermercados e farmácias vivem vazias e, com a queda do preço do petróleo, a situação piorou muito. Mas Maduro segue culpando os “imperialistas americanos”, no mesmo momento que o presidente Barack Obama prepara uma viagem amigável a Cuba. No Brasil, enquanto Dilma faz um desacreditado discurso para o descrente mercado financeiro, seu partido bombardeia a reforma da Previdência, a taxa de juros, rejeita propostas para reduzir o déficit fiscal e a inflação e ainda despeja lenha na fogueira ao defender mais aumentos de gastos e de impostos para alimentar uma gestão que fez do governo balofo e gastador a razão maior de seu fracasso.

Os dois países têm em comum uma visão ideológica intervencionista e autoritária segundo a qual o governante tudo pode. No Brasil, Dilma Rousseff interfere nas empresas e nos negócios, desperdiça dinheiro público criando empresas fadadas à falência (os estaleiros e a Sete Brasil), baixa na marra tarifas públicas (energia elétrica e derivados de petróleo) para depois aumentá-las também na marra, subtrai poupança de trabalhadores obrigando fundos de pensão de estatais a investirem em maus negócios de interesse do governo, enfim, tenta dirigir a vida das pessoas. Até os programas sociais, trunfo maior dos governos petistas, têm sofrido cortes drásticos porque o dinheiro secou, não há mais verbas para sustentá-los. E, para entornar o caldo, a corrupção se faz presente por onde circular dinheiro público.

O caso dos estaleiros é emblemático. Era desejo de Lula ressuscitar a indústria naval, falida nos anos 80 pelo mesmo motivo que faliu agora: incapacidade de competir com países que há anos fabricam navios a custos mais baixos. Mas Lula queria e não mediu esforços: despejou dinheiro público do BNDES em novos estaleiros, distribuiu favores fiscais e obrigou a Petrobrás a comprar navios e sondas de petróleo pelo dobro do preço externo. A Sete Brasil, empresa criada com recursos públicos e privados para fabricar sondas para o pré-sal, vai entrar em recuperação judicial porque secou o dinheiro da Petrobrás para investir em navios e para explorar petróleo do pré-sal. E os trabalhadores? Mais de 20 mil demitidos e muitos estaleiros fechados. E este é apenas um entre tantos outros erros intervencionistas do governo.

*SUELY CALDAS É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO

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