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Filial encara os problemas da matriz

Subsidiárias, como a da Nortel, lutam para mostrar para seus clientes que continuam atuando no mercado

Por Renato Cruz
Atualização:

A Nortel do Brasil, subsidiária da fabricante canadense de equipamentos de telecomunicações, fechou um contrato grande de prestação de serviços no ano passado, e contratou 100 pessoas, que se somaram às 250 que já empregava. Apesar dos problemas na matriz, as perspectivas para o mercado nacional eram boas: o mercado de banda larga cresceu 30% em 2008 e uma das especialidades da Nortel são redes ópticas, que fazem a espinha dorsal da web. Porém, em janeiro chegou a notícia de que a matriz havia pedido concordata no Canadá e nos EUA, onde o processo é chamado de Chapter 11. "Nunca visitei tantos clientes", diz Carlos Brito, presidente da Nortel do Brasil, que luta para mostrar que, apesar da concordata, a empresa continua operando. "O impacto de imagem foi maior que o de negócios." A Nortel é o exemplo de um fenômeno que tem ocorrido desde o começo da crise, em que subsidiárias brasileiras estão em melhores condições que suas matrizes e precisam fazer um esforço grande para mostrar que ainda se mantêm no mercado, mesmo com os problemas enfrentados lá fora. A Nortel pediu a concordata e atualmente trabalha num plano de reorganização, que deve ser apresentado aos tribunais e aos credores até o fim de abril. À frente das operações brasileiras da Nortel desde outubro, Brito explica que, num momento como este, surgem muitas dúvidas na cabeça dos clientes, que são reforçadas por concorrentes, que se aproveitam da situação para tirar contratos da carteira da empresa. Em suas visitas, ele carrega uma apresentação que diz, entre outras coisas, que o Chapter 11 não é o "fim da linha". O executivo aponta que não houve problemas de entrega em duas vendas fechadas em dezembro e garante que fechou um contrato com um grande banco de investimentos no Brasil depois do Chapter 11. Lá fora, os problemas da Nortel, que já foi a maior empresa de capital aberto do Canadá, começaram há bastante tempo, logo depois do estouro da bolha da internet, em 2000. No ano passado, a empresa registrou um prejuízo de US$ 5,8 bilhões. Na semana passada, a Nortel conseguiu a permissão da Justiça americana para vender uma de suas unidades para a israelense Radware por US$ 17,7 milhões e estaria negociando a venda de outros ativos . A Nortel não tem fábrica no Brasil desde 2002 e vem se esforçando, mesmo antes da concordata, para ampliar sua área de serviços. Outra empresa que enfrentou esse problema de concordata da matriz foi a subsidiária da consultoria americana BearingPoint. Na semana passada, a empresa anunciou que negocia um acordo para vender suas operações no Brasil e na América Latina para seus próprios executivos. A consultoria espera concluir o processo em até seis semanas. Nos EUA, a BearingPoint negociou a venda de parte de suas operações para a Deloitte e para a PricewaterhouseCoopers. A General Motors não chegou ao ponto de pedir concordata nos Estados Unidos, mas mesmo assim sua subsidiária brasileira, que acumula dois anos consecutivos de lucratividade, tem sempre de responder o que vai acontecer em caso de quebra da matriz. No fim do ano passado, o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, declarou que "em qualquer cenário de reestruturação da GM na América do Norte, a GM do Brasil não será impactada financeiramente porque não depende da matriz e tem recursos para financiar investimentos". Em 2008, a matriz da General Motors teve prejuízo de US$ 30,9 bilhões. Os problemas da seguradora americana AIG também tiveram reflexo no Brasil. Em setembro, o governo dos EUA teve de socorrer a empresa com um empréstimo de US$ 85 bilhões, o que gerou rumores sobre a operação da AIG no Brasil, onde mantinha sociedade com o Unibanco. Para evitar que isso acabasse afetando sua operação, o Unibanco comprou em novembro a participação da AIG na sociedade.

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