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Fim do racionamento amplia risco para 2003

Por Agencia Estado
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O Brasil sofre o sério risco de ter de enfrentar um novo racionamento de energia em 2003 se de fato o presidente Fernando Henrique Cardoso optar pelo fim do programa de contenção de consumo neste momento. A análise é do coordenador do Programa de Planejamento Energético (PPE) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa e Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauricio Tiomno Tolmasquim. "Se olharmos apenas para 2002, os níveis dos reservatórios, hoje com armazenamento entre 54% e 56%, são suficientes para passarmos esse ano com tranqüilidade no abastecimento de energia", comenta. "Mas, ao término do período chuvoso, não teremos estoque suficiente para enfrentarmos 2003 e, portanto, se for um ano seco, como em 2001, passaremos por outro racionamento", ressalva. "O racionamento acaba, mas a crise elétrica no Brasil continua." Na avaliação do especialista, o governo federal e, principalmente, a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), trabalham com uma visão de curto prazo. "Teremos que ficar à mercê de São Pedro no início de cada ano. Nunca foi assim na história do setor elétrico", argumenta. "A base de trabalho adotada hoje tem sido anual e, historicamente, o planejamento é plurianual. Um reservatório não é um erro de engenharia. Foi planejado e construído para acumular água por anos e, ao desconsiderar esse fato, o governo incorre no mínimo num equívoco de planejamento", acusa. Expansão - A apreensão de Tolmasquim sobre o futuro do setor elétrico brasileiro também se justifica pela inexpressiva expansão do setor verificada ao longo dos últimos anos e, em especial, nos próximos 12 meses. "Liquidamos nossa poupança de água e a expansão prevista para o sistema este ano é de 5 mil megawatts (MW), sendo que 2 mil provêm da contratação da energia emergencial usinas móveis e outros 3 mil do duvidoso Programa Prioritário de Termoeletricidade (PPT)", avalia. Ele defende que os preços da eletricidade produzida pelas usinas móveis (instaladas em barcaças) são "absurdamente" altos, injustificáveis até, mesmo se considerado o fato de essa energia servir apenas como uma apólice de seguro. "Tudo tem um limite e esse caso das barcaças é um escândalo. Só o aluguel, sem a geração, cada megawatt-hora (MWh) custa R$ 70. Os atuais contratos de fornecimento giram em torno de R$ 45/MWh. Se essas usinas gerarem, o custo chega até R$ 280 MWh", descreve. "Só de aluguel, pagaremos R$ 4 bilhões. Se produzirem energia, o montante pode chegar a R$ 16 bilhões. O mais impressionante é que, com toda a privatização do setor elétrico, arrecadamos R$ 37 bilhões", esclarece. Outro ponto apresentado pelo professor da UFRJ é que, ao gerar eletricidade a partir da queima de óleo, as barcaças são extremamente poluidoras. "Para suspender o racionamento, o governo também considerou o ingresso dessa energia cara. Temos um atraso de 10 mil MW no sistema, acumulado ao longo dos últimos 12 anos. Não é com barcaças que resolveremos esse problema. Precisamos de expansão e eficiência no consumo", argumenta.

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