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Fiscais inspecionam tudo, dos animais às instalações

É tanta minúcia que até o número no brinco dos bois é conferido com o registro no Ministério da Agricultura

Por Fabiola Salvador , Mozarlândia , Fazenda Nova e Goiás
Atualização:

Orelha por orelha, brinco por brinco. Além de checar todos os dados de "identidade" do rebanho, os inspetores da União Européia (UE) vasculham as farmácias das fazendas atrás de medicamentos vencidos e os depósitos de rações para ver se o gado é alimentado com proteína animal, o que os europeus vetaram após os surtos da doença-da-vaca-louca. Apesar da filtragem na lista das fazendas aptas a abastecer os frigoríficos e a exportar carne in natura para os 27 países da UE, a missão sanitária que está no Brasil mantém uma vistoria rigorosa na análise dos dados de rastreabilidade do gado. O Estado acompanhou, anteontem, o primeiro dia da visita dos europeus a fazendas em 28 municípios de cinco Estados exportadores que serão vistoriadas (GO, MT, MG, RS e ES). A holandesa Frankie de Dobbelaere e o belga André Evers estiveram na Fazenda 3 A II, no município de Mozarlândia, a cerca de 300 quilômetros de Goiânia, para conferir se a numeração inscrita nos brincos e nos bótons dos animais confere com os dados armazenados no Ministério da Agricultura. A diferença entre os números do brinco e as informações da base oficial de dados foi uma das falhas apontadas pela UE durante inspeção do fim de 2007. Na fazenda 3 A II, eles avaliaram os dados de todos os 609 animais que estão cadastrados no Sisbov, o sistema brasileiro de rastreabilidade. Dois bezerros recém-nascidos ainda estavam sem brinco. "A inclusão no Sisbov só é permitida após a desmama", explicou Alvino Antônio Alves Junior, proprietário da fazenda, que acompanhou pessoalmente a visita dos fiscais da UE. O ritual do trabalho não deixou dúvida de que a cordialidade dos dois fiscais não interfere no rigor da missão e a tarefa deles é mesmo passar um pente-fino no gado selecionado para vistoria. Lotes com 50 animais foram tocados das pastagens para os currais, o que permitiu, depois, fazer inspeções em grupos de cinco animais. ATAQUE DE BOI Acompanhados de um tradutor, os europeus não emitiram opinião sobre o que viram. O sorridente belga quase foi chifrado por um animal que estava na baia da inspeção. Evers acariciou a cabeça do boi e escapou do chifre graças ao pilar da cerca. Além de checar se havia medicamentos vencidos, os fiscais procuraram na farmácia da fazenda por substâncias proibidas nos estoques. A questão do manejo alimentar, ou seja, da ração ou suplementação que é oferecida ao gado, também foi avaliada, já que a proteína de origem animal é proibida na alimentação dos rebanhos. Os dados referentes à movimentação dos animais passaram pelo crivo dos europeus. Eles também fizeram perguntas sobre a capacitação teórica e prática dos inspetores brasileiros que fiscalizam as fazendas. "O rigor é o mesmo das missões anteriores", contou Willian Vilela, gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa, órgão que executa as ações de defesa sanitária em Goiás. É a partir das visitas e dos relatórios dos fiscais que o Brasil pretende reconquistar o mercado da UE. As autoridades européias suspenderam as compras em 1º de fevereiro porque desconfiaram de uma lista de propriedades avaliadas como aptas a vender para o bloco comunitário. Da lista original de 2.681 fazendas, 1.065 eram de Goiás e 17 da região de Crixás, visitada anteontem. Todas as vistorias devem ser feitas até 11 de março. No dia 14, eles planejam se reunir em Brasília para comentar, de forma preliminar, o resultado das inspeções.

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