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‘Fitch alerta que é preciso olhar a despesa financeira’

Economista vê urgência na questão do déficit financeiro e a necessidade de se avaliar, se for o caso, medidas adicionais

Por Alexa Salomão
Atualização:

A situação do Brasil é “periclitante”, avaliou ao Estado o economista Armando Castelar Pinheiro. “Se não fizermos nada, vamos perder o grau de investimento na Fitch.” Para ele, a agência fez uma alerta adicional. “Estamos deixando de lado o aumento das despesas financeiras.” Como o rebaixamento da Fitch era previsto, o efeito é menor? Já havia a expectativa de que a Fitch rebaixaria. Por causa dessa expectativa, as coisas já estavam acontecendo. O crédito externo está ficando mais caro. As empresas já estão sentindo. Mas a Fitch colocou a perspectiva negativa. É uma preocupação adicional. Sinaliza que, se não fizermos nada, vamos perder o grau de investimento também pela Fitch. A situação está periclitante. Como as notas foram revistas nas três grandes agências, o Brasil tem até o ano que vem para evitar outro rebaixamento?  Normalmente seria assim, mas a regra não é escrita em pedra. A prova disso é que a Standard & Poor’s fez um movimento ágil. Colocou a perspectiva negativa e, rapidamente, a perspectiva virou um efetivo downgrade (rebaixamento). O movimento ocorreu, se não me engano, num intervalo de seis semanas.

Armando Castelar Pinheiro, coordenador de pesquisa do Ibre/FGV Foto: Tasso Marcelo/Estadão

 Há um fator determinante? Tudo depende da área fiscal. Da política econômica. O que fez a S&P se mover com rapidez atípica foi o governo enviar ao Congresso a proposta de Orçamento de 2016 com déficit, quando semanas antes havia falado em superávit. Se fizer um movimento semelhante, pode vir outro rebaixamento. Qual é a sinalização do governo neste momento?  Com o rebaixamento, a Fitch diz que a resposta do governo não é suficientemente forte. O sr. acredita que o governo agora pode ser mais enérgico? Seria razoável que tivesse uma reação, como a que demonstrou após o rebaixamento da S&P. Mas temos de considerar que não houve fato novo na capacidade do governo de analisar a realidade. Também já se sabe que a situação fiscal é muito séria. A dívida está subindo numa velocidade muito grande. Infelizmente, o debate não reflete a realidade da situação. O comunicado da Fitch diz isso. Estão dando atenção às despesas primárias, quando neste ano a deterioração foi muito mais forte sobre as despesas financeiras. Há muito pouco debate em torno das razões que levaram o déficit nominal a sair de 3% (em proporção a PIB) para mais de 9%. Há um grupo de economistas que frisa a necessidade de se ampliar o ajuste, para que inclua uma solução ao déficit nominal...  Isso precisa ser feito urgentemente. O déficit financeiro é muito maior que o primário. Mas estão discutindo apenas o primário. É preciso entender como isso está acontecendo e avaliar se não é caso de se tomar outras medidas complementares à questão do primário. Dentro do primário, a Fitch também realça que o ajuste não pode se limitar ao corte de despesas discricionárias. Se o governo argumenta que o limite para reduzir gastos é pequeno, porque as despesas obrigatórias são maiores, então vamos discutir as despesas obrigatórias. É isso que a Fitch está dizendo. É absolutamente correto. A Fitch também destacou a questão política... Sim. A própria base do governo não tem apoiado o ajuste. Quando quem deveria estar apoiando é quem mais bate, fica difícil vislumbrar como a coisa pode evoluir positivamente. Parte da deterioração vem da falta de perspectiva. Nunca houve nas últimas décadas uma situação em que o médio prazo fosse tão pouco visível. Isso é uma peculiaridade preocupante. Como empresas e famílias vão ter confiança se não enxergam como as coisas vão ficar ali na frente? 

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