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'Flexibilide e poder de adaptação são fundamentais'

Características ajudam a enfrentar situações adversas, tanto culturais quanto de gerenciamento, defende líder da empresa alemã

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Primeiro brasileiro a comandar a Bayer nos 117 anos em que a empresa alemã está no País, o paulistano Theo van der Loo, de 58 anos, fez carreira no setor químico por um motivo simples: o desejo de voltar ao Brasil. Em 1979, depois de concluir MBA na Thunderbird School of Global Management, nos Estados Unidos, a única empresa que ofereceu uma oportunidade no Brasil era desse setor. "Mas meu interesse era na área de marketing", conta. Mas essa história começa bem antes. Filho de holandeses que imigraram para o Brasil em 1947, Loo precisou deixar o País em 1967, quando os pais decidiram voltar para a Holanda. Ele avisou: depois de formado, voltaria para cá. Foi o que fez. Em 1988, tempos depois de estar no Brasil, entrou na Schering, onde construiu carreira e teve várias experiências internacionais. Em 2007, a companhia foi adquirida pela Bayer. Em janeiro de 2011, tornou-se o presidente do grupo Bayer no Brasil, que tem negócios nas áreas agrícola, saúde e em materiais inovadores. Em 2012, o conglomerado vendeu R$ 5,5 bilhões no Brasil. Loo diz que o apoio da família, em especial dos filhos, foi fundamental. A seguir, trechos da entrevista.Você já trabalhou antes no Brasil, além de EUA, Espanha, Alemanha e México. Foi difícil?Eu venho me adaptando a novas situações desde que eu tenho 12 anos. Fui parar numa sala de aula na Holanda, naquela idade, sem conhecer muito bem holandês. Eu falava um pouco. Então, vamos nos adaptando. Hoje, sou muito flexível a novas situações, e procuro sempre encontrar o positivo nas oportunidades que me foram oferecidas. Pude procurar coisas boas na Alemanha, no México, na Espanha. Cada experiência, cada nova oportunidade tem também o seu lado positivo, embora nem sempre seja fácil no início. Você acha que a flexibilidade o ajudou a chegar a presidente? Acho que essa flexibilidade e poder de adaptação são fundamentais. Não só culturalmente, mas também para enfrentar situações adversas na companhia. Na Espanha, por exemplo, quando era diretor geral da Bayer Health Care, pegamos o início da crise de 2008, houve um impacto muito grande. Então, vai-se adaptando às novas situações que existem no país, no mercado. Com o tempo, você acaba obtendo uma certa sabedoria em lidar com isso. Eu diria que a paciência é fundamental. E também tratar as pessoas com respeito, independentemente do momento que você esteja passando. Isso sempre foi fundamental na minha carreira. Também acho importante comunicar a estratégia da empresa para os colaboradores e ter uma automotivação contagiosa.No Brasil, qual tem sido seu maior desafio desde que assumiu a presidência?Em primeiro lugar, garantir o crescimento contínuo da empresa. A Bayer é muito grande, tem várias divisões, e às vezes uma divisão está melhor, outra está pior, mas afinal o que interessa é o resultado total do País. Então essa é uma meta que temos. E igualmente importante é sempre garantir um bom ambiente de trabalho, porque as pessoas precisam ter prazer no que fazem. Mas realmente temos vários desafios. A Bayer no Brasil é a quinta subsidiária da empresa no mundo e já estamos quase disputando com a quarta, o Japão, e com isso vem muita expectativa lá de fora. As pessoas veem um crescimento enorme na China, e temos de administrar expectativas, porque o Brasil não é como a China. O que se faz, então?O Brasil tem uma série de diferenças, começando pela cultura, a religião e a política. O crescimento econômico do Brasil é movido por outros parâmetros. Enfim, temos de explicar para a matriz que o Brasil é um país com muito potencial de crescimento, é o quinto país do mundo em termos de população e o quinto em termos geográfico e tem muito a oferecer. Temos muitos desafios aqui, a burocracia, o mercado que é muito competitivo, há muita concorrência e os impostos, o Brasil é um país caro para fabricar. Então, há desafios, mas tentamos colocar tudo dentro de uma certa perspectiva. Outro grande desafio para nós também é garantir que continuemos recebendo investimentos, o que acho importante para a Bayer no Brasil e também para o País.E isso se garante com bons resultados?Em algumas áreas sim. Nosso negócio de agricultura é um negócio que cresce bastante, o Brasil é um país muito importante no mundo do agronegócio. Na área da saúde, temos aqui uma fábrica grande de anticoncepcionais. Mas para fabricar alguns produtos, o Brasil não é competitivo. Podemos importar e não fabricar no Brasil. Aí, procuramos sensibilizar a matriz a manter investimentos no País - o que ela está fazendo. Mas hoje, a China é muito competitiva como país, e ela consegue fabricar a um custo menor do que o Brasil.Quais dicas dá para quem está começando a carreira?Tem de ter paixão pelo que faz. O respeito com colegas e subordinados é fundamental. Procurar pessoas na companhia que possam ajudá-lo a pedir feedback para as pessoas e ouvir o que elas falam. Outra coisa que, para mim foi fundamental, na minha carreira foi o contato com a força de vendas, você sai da teoria e entra na prática. Porque, às vezes, ficamos sentados no escritório imaginando coisas. Mas você tem de estar próximo ao cliente, saber o que ele está pensando, e também do vendedor quando ele vai fazer a venda, saber o que ele precisa. Aprendi rapidamente que o público interno é muito importante para ajudar na carreira. E eu também sempre falo, tem de ter coração para o negócio, mas sempre ter em mente que estamos aqui para gerar vendas, gerar lucro, tem de haver resultados. Também acho que a lealdade, a honestidade, são fundamentais, não tentar enganar colegas, admitir que errou e aprender com os erros. Acho que tudo isso é fundamental. Um outro conselho que eu daria é correr atrás de oportunidades novas, nem sempre as pessoas vêm com uma bandeja oferecendo opções de crescimento na carreira, algumas coisas tem de correr atrás, tem de estar disposto a fazer sacrifícios, e quando vê que não está acontecendo tem de reclamar. Algum arrependimento?De não ter feito mais cursos. De não ter tirado uma ou duas semanas para me dedicar mais ao estudo.

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