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FMI aposta que turbulência vai passar após eleição

Por Agencia Estado
Atualização:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aposta que a turbulência nos mercados financeiros no Brasil vai se acalmar quando estiver concluída a transição presidencial. Esta posição foi explicitada hoje, por Anoop Singh, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, e principal executivo responsável pela América Latina. "Acho que todos nós esperávamos que os mercados financeiros no Brasil permanecessem voláteis até que as incertezas da transição estejam concluídas. Não é surpresa que haja volatilidade. Mas nós esperamos que haja uma volta a condições mais normais uma vez que a transição esteja concluída", disse Singh, em entrevista à imprensa na sede do FMI, em Washington. O FMI vem sendo questionado por alguns críticos por ter apoiado o Brasil com um pacote de US$ 30 bilhões, sem que a situação turbulenta envolvendo o País tenha melhorado depois do anúncio. Hoje, refletindo a posição mais dura que vem governando as instituições multilaterais desde que a presidência americana foi ocupada pelo republicano George W. Bush, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos emitiu uma nota na qual declara que "está claro que são as políticas dos próprios países que determinam o seu destino econômico; quando os líderes de uma nação permitem a formação de um endividamento insustentável, são os cidadãos daquela nação que pagam pela falha dos líderes". O FMI e o G-7 (grupo das sete principais nações industrializadas), porém, ainda preferem ver o Brasil como um País com políticas responsáveis, cujas atuais dificuldades não são permanentes, tendo sido causadas pela combinação das incertezas eleitorais e um cenário internacional adverso. Segundo Singh, os fundamentos econômicos do Brasil permanecem sólidos. "Com certeza as políticas macroeconômica são muito sólidas; são embasadas em um sistema de metas de inflação com credibilidade e testado, e por um forte arranjo de médio prazo para a política fiscal, com o objetivo de manter a sustentabilidade da dívida (pública), disse o diretor do FMI, acrescentando: "E, como vocês sabem, é um sistema que foi apoiado pelos principais candidatos a presidente no Brasil." Singh apoiou a análise sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira realizada pelo governo - e que está em um trabalho do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn - e ironizou a profusão de opiniões sobre o assunto que vêm surgindo nos meios financeiros e econômicos internacionais. "Não posso nem mais tentar ler as notícias no meu computador, porque todo mundo está falando da dívida pública (brasileira)", ele disse, citando especificamente o ex-diretor-gerente do FMI, e atual vice-presidente do Citigroup, Stanley Fischer. Na sexta-feira, em uma palestra realizada na sede do Banco Mundial, e em posterior entrevista à imprensa, Fischer levantou dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira, e afirmou que o estudo de Goldfajn não leva em consideração a deterioração recente das condições do endividamento, em função da desvalorização do câmbio e da alta dos juros. Singh aconselhou os ouvintes a focalizar a sua atenção, quando o tema é a dívida brasileira, em dois estudos recentes: o de Goldfajn, e o do economista John Williamson, do Instituto para Economia Internacional, de Washington. O diretor do Fundo observou que as conclusões do trabalho de Williamson, que foi feito de forma independente, são as mesmas nas quais se baseou o último acordo do FMI com o Brasil, fechado em agosto. O estudo de Williamson, segundo Singh, aponta que um superávit primário (exclui despesas com juros) por volta de 3,75% do PIB do setor público consolidado (todos os níveis da Federação) é suficiente para estabilizar e, no futuro, reduzir a dívida pública brasileira. Este é o parâmetro do acordo, mas o diretor do Fundo observou que está previsto também mudanças trimestrais, para mais ou para menos, na meta de 3,75%, para adaptá-la ao fato de que, no curto prazo, o câmbio e os juros podem fugir muito das hipóteses assumidas no acordo. Quanto à dívida vinculada ao câmbio, Lorenzo Perez, sub-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, encarregado do Brasil, disse que "as mudanças na composição da dívida pública têm de ser feitas de maneira gradual, e num ambiente de grande volatilidade é mais difícil". Ele achou positivo o fato de que, ao não rolar integralmente os vencimentos cambiais, o governo já esteja trabalhando para reduzir a proporção da dívida dolarizada.

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