O Fundo Monetário Internacional (FMI) se afastou das receitas amargas de ajuste fiscal e defendeu o aumento do investimento público em infraestrutura como caminho para aumentar o crescimento num cenário de baixa taxa de juros e lento ritmo de expansão em muitos países. Na avaliação do FMI, os projetos podem gerar retornos que paguem as dívidas contraídas para sua execução e evitar a elevação do endividamento público em relação ao PIB.A infraestrutura ganhou um capítulo no Panorama Econômico Mundial do FMI e ontem foi objeto de dois painéis do encontro anual da instituição, que ocorre desde terça-feira. Em um deles, o Brasil ganhou destaque pelas suas deficiências e pelas dificuldades que enfrenta para superá-las.O mundo desenvolvido registra juros próximos de zero há seis anos, mas não conseguiu uma recuperação correspondente da atividade produtiva. Na avaliação do Fundo, o investimento público em infraestrutura é um dos poucos instrumentos de política econômica que sobraram para estimular o crescimento. No mundo em desenvolvimento, teriam o papel adicional de aliviar os gargalos que limitam a expansão do PIB.Bumerangue. O FMI sugeriu que economias avançadas podem se beneficiar do investimento em infraestrutura mesmo que isso leve ao aumento do endividamento. Se houver necessidade real dessas obras, o retorno econômico dos projetos pode levar à redução da relação entre dívida púbica e PIB. Esse movimento é menos óbvio nos países emergentes, que devem avaliar os benefícios das obras e os riscos fiscais envolvidos, disse a instituição."É uma mudança ideológica do Fundo", avaliou o assessor da presidência do BNDES, Ernesto Lozardo, em entrevista ao Estado. João Carlos Ferraz, diretor do BNDES, reconheceu que os juros elevados dificultam a execução de projetos no Brasil, já que aumentam a taxa de retorno exigida e dificultam o cálculo da remuneração do investimento no longo prazo. Além disso, criam uma opção líquida e segura de investimento, que reduz a atratividade dos projetos de infraestrutura. Lozardo defendeu a necessidade de corte do gasto público que crie espaço para redução dos juros e estabilidade da taxa de câmbio. "Nós não temos uma crise de dívida, mas houve expansão fiscal direcionada ao consumo, não ao investimento", observou.