Publicidade

FMI diz que não há risco de ´bolha emergente´

Segundo o órgão, as melhoras nos fundamentos macroeconômicos dos emergentes e a maior maturidade dos investidores retiram a hipótese de grande volume de ativos, que precisem ser corrigidos nesses países

Por Agencia Estado
Atualização:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) não concorda com a tese, defendida por uma parcela dos analistas, de que existe hoje uma bolha emergente que poderá resultar numa crise financeira nos moldes das registradas na década de 90. Ao apresentar o relatório Estabilidade Financeira Global, o diretor do departamento de Mercados de Capital Internacional do Fundo, Gerd Hausler, disse que as melhoras nos fundamentos macroeconômicos dos emergentes e a maior "maturidade" dos investidores "sugerem que não há um forte argumento para sustentar a idéia de uma bolha volumosa nos ativos dos mercados emergentes esperando para ser corrigida". Segundo ele, deverão ocorrer correções periódicas nos mercados, como as que se verificaram no mês passado, "ou até mais fortes, mas tanto a comunidade de investidores como os próprios países emergentes estão muito mais preparados do que no passado para superar essas tempestades sem a erupção de crises". Redução dramática Hausler qualificou como "dramática" a redução das vulnerabilidades dos emergentes nos últimos anos e disse que essa melhora não é um fenômeno temporário causado apenas pelo ciclo favorável da economia global, até aqui marcado por uma forte liquidez , baixa aversão ao risco e elevados preços das commodities. "Houve uma mudança nos fundamentos e essa mudança vai sobreviver a qualquer provável deterioração cíclica no futuro", disse. Segundo ele, "lições dolorosas das crises passadas parecem ter sido aprendidas pelos emergentes", pois muitos desses países adotaram maior rigor fiscal e flexibilidade cambial, além de melhorarem o gerenciamento de suas dívidas. Reservas serão amortecedor Hausler salientou que o acúmulo de reservas de vários emergentes poderá servir como "um amortecedor importante ou absorvedor de choques se necessário, comprando para os países maior tempo do que no passado para se ajustarem" a crises, mesmo que sérias. No entanto, alertou, os países que não fortaleceram suas economias e situações financeiras ainda estão vulneráveis à volatilidades externas. "Alguns países precisam ainda lidar com urgência com seus desequilíbrios internos e externos, e fortalecer seus sistemas bancários frágeis", disse. Eleições no Brasil Hausler disse ainda que o ciclo eleitoral na América Latina não deverá ameaçar a manutenção de políticas macroeconômicas estabilizadoras adotadas por boa parte dos países da região, entre os quais se destaca o Brasil. "Nos últimos anos, mudanças políticas não reverteram a boa condução macroeconômica dos países latino-americanos",explicou. "O presidente Lula, é bom lembrar, surpreendeu muita gente reforçando a prudência fiscal do País. Olhando para o futuro, esperamos que as coisas continuem desta maneira." Ele ressaltou que a redução da vulnerabilidade financeira do Brasil nos últimos anos deixou o País mais preparado para enfrentar eventuais crises de aversão ao risco entre nos mercados internacionais. "As reservas brasileiras são muito superiores às que víamos há dois ou três anos", disse. "O País está mais forte para reagir a turbulências". Riscos a curto prazo O relatório também não prevê tropeços sérios para a economia mundial nos próximos meses, mas alerta que uma série de riscos poderão ameaçar a estabilidade financeira no médio prazo, como um o aumento da inflação causado por uma maior elevação nos preços do petróleo ou um desaquecimento acentuado do mercado imobiliário nos Estados Unidos. Entre as principais ameaças para a estabilidade financeira, Hausler ressaltou a possibilidade de uma escalada inflacionária. "Com o crescimento econômico continuando a surpreender para cima e o aumento da utilização dos recursos, as pressões inflacionárias poderiam crescer, especialmente se os preços do petróleo subirem ainda mais", disse. Segundo o economista, um a forte desvalorização do dólar causada pelo enorme déficit em conta corrente dos Estados Unidos também teria um "impacto severo". Um risco de "baixa probabilidade mas elevado impacto" seria o surgimento de uma epidemia da gripe aviária. "Isso poderia ter um sério impacto sobre os sistemas financeiros internacionais e sobre a economia global", disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.