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FMI empurra Argentina para o calote, diz economista

Por Agencia Estado
Atualização:

O alívio concedido pelo FMI à Argentina na semana passada, ao prorrogar por um ano o pagamento de US$ 2,75 bilhões que vencia nesta segunda-feira, empurrou o país mais uma vez para um calote. Desta vez com os organismos multilaterais de financiamento, já que o calote dado aos credores privados continua sem solução desde dezembro do ano passado. O perdão do Fundo, de acordo com a Fundação Capital, um dos maiores escritórios de consultoria financeira do país, serviu apenas para acumular ainda os débitos que a Argentina terá de honrar até o final do próximo ano. Dados da fundação mostram que o país terá de transferir aos organismos multilaterais de financiamento (FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento) US$ 8,976 bilhões até o fim do primeiro trimestre de 2003, quando o presidente da Argentina estará sendo eleito. Esse cifra é apenas US$ 187 milhões menor ao volume total de reservas internacionais nos cofres do Banco Central (US$ 9,163 bilhões até o dia 4 de setembro (último dado disponível). Entre o segundo e quarto trimestres de 2003, o novo governo argentino, independentemente de quem vença as eleições do dia 30 de março, terá de honrar outros US$ 6,457 bilhões. Isto é, entre este mês e dezembro de 2003, a Argentina terá de pagar ao FMI, Bird e ao BID US$ 15,433 bilhões. A esse valor precisará ser somado ainda os US$ 2,75 bilhões que o Fundo prorrogou até setembro na semana passada. "Se a Argentina não chegar a um acordo com o Fundo, será obrigada a usar as suas reservas ou a decretar default (calote) com os organismos multilaterais de financiamento", diz o diretor executivo da Fundação Capital, Carlos Pérez, em entrevista à Agência Estado por telefone de Buenos Aires,. Para o economista, no entanto, seria "uma loucura" usar reservas internacionais para honrar os compromissos externos. Resta então, diz ele, "o acordo com o Fundo ou o default". É bom lembrar que nem o Bird nem o BID "perdoam" pagamentos. O prazo máximo concedido por esses dois organismos é de 30 dias após o vencimento, conforme os estatutos. "O grande problema da Argentina é que a única coisa que seus dirigentes conseguem é adiar os problemas e não resolvê-los. Se a esses problemas somar-mos ainda as incertezas geradas pelos políticos, pelo Judiciário e pelo Legislativo, não resta senão esperar pelo pior", afirmou o economista. Dados recentes do Ministério de Economia mostram que a Argentina desembolsou entre janeiro e agosto deste ano US$ 6,62 bilhões para pagar ao Fundo, Bird e BID. Desse montante, o Bird foi o organismos que mais recebeu (US$ 2,82 bilhões), seguido pelo BID (US$ 2,3 bilhões) e pelo Fundo (US$ 1,40 bilhão). Em apenas oito meses a Argentina ficou 65% mais pobre, em dólares. De acordo com a Fundação Capital, o PIB despencou de US$ 270 bilhões para US$ 95 bilhões (340 bilhões de pesos). "Até dezembro do ano passado, o país tinha uma renda per capita de pouco mais de US$ 7 mil. Hoje, não passa de US$ 2,5 mil", disse Calos Pérez. As estimativas da Fundação mostram ainda que a economia este ano deverá encolher 15% em comparação com o desempenho do ano passado. "Mesmo que a forte queda da atividade industrial venha a desacelerar nos próximos trimestres, não será suficiente para atenuar esse brutal encolhimento do PIB este ano", disse o economista. De acordo com ele, a Fundação estima que a atividade industrial no terceiro e quarto trimestres deverá cair 1% e 0,5%, respectivamente, ante quedas de 6,5% e 1,5% no primeiro e segundo trimestres deste ano, respectivamente. "A recessão não chegou ao fim", disse Pérez. A fundação prevê ainda que os investimentos deverão cair 40% e o consumo, 20%.

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