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Brasil segue em marcha lenta, diz FMI

Relatório aponta crescimento abaixo da média global até 2022; aceleração da economia depende de investimentos e reformas estruturais

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Por Rolf Kuntz
Atualização:

WASHINGTON - O Brasil continua sem fôlego para acompanhar o crescimento mundial e assim continuará nos próximos anos, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Vencida a recessão, a economia brasileira deve crescer apenas 0,2% neste ano e 1,7% em 2018, sem vigor para avançar muito mais e perdendo em quase todas as comparações – até com a maioria dos países latino-americanos.

Em 2022 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ainda aumentará somente 2%, enquanto a produção global avançará 3,8%, puxada principalmente pelo bloco dos emergentes e em desenvolvimento. Para esse grupo está prevista uma expansão de 5%, mesmo com o ritmo chinês diminuído para 5,7%.

De acordo com o FMI, Brasil deve emergir aos poucos de uma das piores recessões de suahistória Foto: Tim Sloan/AFP

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Projeções de longo prazo são sujeitas a grandes erros, mas são instrutivas, neste caso, porque ressaltam a diferença de potencial do Brasil e da média dos outros países, pelo menos na visão dos técnicos do FMI. Desde antes da recessão eles têm apontado o enfraquecimento econômico do País, associado em grande parte ao baixo nível de investimento. Até agora os fatos parecem ter confirmado essa avaliação.

Três fatores sustentarão a recuperação econômica do Brasil em 2017 e 2018, segundo o Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem pelo FMI: a redução da incerteza política, o afrouxamento monetário (com redução dos juros) e o avanço da agenda de reformas. Mas a incerteza política pode ser até agravada, quando as investigações sobre corrupção atingem políticos dos mais altos escalões, admitiu a economista Oya Celasun, chefe de divisão do Departamento de Pesquisa, liderado por Maurice Obstfeld.

Ela ressaltou, no entanto, o compromisso reformista do governo, reafirmado na semana passada, e notícias positivas sobre a economia brasileira no primeiro bimestre. Ela se referia principalmente aos indicadores do nível de atividade produzidos pelo Banco Central (BC). A continuação do corte de juros, iniciado em outubro e ampliado na semana passada pelo BC, dependerá dos outros dois fatores: a redução da incerteza e o cumprimento da pauta de reformas econômicas, mas a resposta omitiu esse detalhe.

Entre os fatos positivos, o relatório aponta o repique da atividade a partir do fim do ano passado e o forte recuo da inflação, descrito como surpreendente. Esse recuo abriu espaço para uma redução mais veloz dos juros. Mas o crescimento, depois de uma recuperação gradual, deve continuar moderado.

Reformas. As perspectivas macroeconômicas do País, de acordo com o documento, dependem da implementação de um conjunto ambicioso de reformas econômicas estruturais e fiscais. A consolidação fiscal, mesmo com a ênfase inicial na eliminação do déficit orçamentário, dependerá no médio prazo da redução de gastos insustentáveis, incluída a reforma previdenciária. O documento chama a atenção também para o agravamento da crise fiscal em alguns Estados.

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Para aumentar o potencial de crescimento e de melhora dos padrões de vida, os brasileiros dependerão, segundo o Panorama, tanto da consolidação fiscal quanto da elevação do investimento e da produtividade. Será preciso eliminar gargalos da infraestrutura, simplificar as normas tributárias e reduzir as barreiras comerciais.

Essa lista de recomendações – e, portanto, de problemas pendentes – ajuda a entender por que o crescimento projetado para o Brasil em 2022, de modestos 2%, ainda é menor que o estimado para o conjunto da América Latina e do Caribe, 2,6%.

A média da região, no entanto, ainda será prejudicada pelo miserável desempenho da Venezuela, com retração de 1,3%. A economia venezuelana está encolhendo desde 2014, quando o PIB diminuiu 3,9%. Houve reduções de 6,2% em 2015 e de 18% em 2016. As estimativas apontam contrações de 7,4% neste ano e de 4,1% em 2018, mantidas, naturalmente, as condições básicas da política. Não cabe aos economistas do FMI jogar com outro tipo de pressupostos.