PROBLEMAS COM SUPERVISÃO
O TCU recomendou parar a construção de Abreu e Lima até que as irregularidades pudessem ser esclarecidas. O Congresso Nacional, que tinha começado sua própria investigação paralela, concordou e votou pela retenção de fundos e pagamentos em alguns contratos no orçamento de 2010.
No entanto, Dilma, que então se preparava para concorrer à Presidência da República, rejeitou essas recomendações, advertindo que uma paralisação em um projeto tão grande poderia causar desemprego e convenceu Lula a vetar aquela parte da proposta do orçamento.
A construção continuou e os problemas só aumentaram. O custo da refinaria, orçada em 9,2 bilhões de dólares em 2009, mais do que dobrou para 18,5 bilhões de dólares em 2014, parcialmente porque a estatal venezuelana PDVSA saiu do projeto que ajudaria a financiar.
O TCU continuou a indicar irregularidades nos relatórios sobre a refinaria de 2010, 2011, 2012 e 2013.
O conselheiro da Petrobras Silvio Sinedino, que representa os funcionários no Conselho de Administração da empresa, disse que o Conselho não conseguiu detectar o esquema de corrupção porque nos últimos anos passou a aprovar automaticamente o que o governo queria.
"O governo não quer fiscalização", disse ele, acrescentando que informações financeiras importantes de projetos muitas vezes somente são fornecidas no dia de reuniões do Conselho.
Sauer disse que Dilma costumava convocá-lo, e também outros altos executivos da Petrobras, para ir a Brasília.
"Aquelas reuniões foram algumas das mais desagradáveis da minha vida... Não só eram longas, mas envolviam muitos gritos por parte dela", disse ele, acrescentando que teve que sair da Petrobras depois de perder apoio de Dilma por se opor a alguns projetos que ela apoiava.
A extensão total do escândalo tornou-se finalmente evidente este ano, quando uma investigação sobre lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal em Curitiba.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso em 20 de março. Ele declarou aos investigadores que ajudou a orquestrar um esquema de propina com um "cartel" de empresas de construção que inflaram os preços de obras da estatal.
"Eu não lembro de nenhuma empresa ter deixado de pagar", disse ele em depoimento.
Depois houve mais prisões, e os promotores esperam mais revelações.
De acordo com Costa e outras testemunhas, a refinaria Abreu e Lima foi o marco zero para grande parte da corrupção. O investigador do TCU Puttini disse que "algumas das pessoas na cadeia agora" são os mesmos que foram questionados em 2009.
O funcionário sênior próximo a Dilma diz que ela está "chocada" com a extensão do esquema de corrupção. "Ninguém acreditava que algo dessa escala poderia ter acontecido no Brasil", disse.
A Petrobras congelou gastos em meio à investigação em dezenas de projetos, levando à dispensa de milhares de trabalhadores em estaleiros, engenheiros e pessoal de construção.
Os efeitos econômicos do escândalo podem tirar 1 ponto percentual ou mais do crescimento do Brasil em 2015, dizem alguns economistas, o que seria suficiente para colocar o país em recessão.
(Reportagem adicional de Brian Winter)