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Fraga nega-se a comentar inflação recorde do real

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central, Arminio Fraga, negou-se a comentar a inflação recorde do Plano Real medida pelo IGP-M de outubro, de 3,87%, ao deixar um hotel na capital paulista, onde participou do 23º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão. Fraga limitou-se a dizer: "Leia a ata do Copom". De acordo com a ata, vários aumentos de preços controlados pelo governo ocorrerão ainda este ano, como a gasolina e o gás de cozinha. Apesar de não falar especificamente do IGPM, o presidente do Banco Central mostrou-se preocupado com a alta da inflação, afirmando se tratar de uma "questão séria, mas "que temos condições de administrar". Ele alertou para o risco de se aceitarem taxas mais elevadas de inflação a partir do próximo ano. "Talvez não seja necessário convergir rapidamente para os níveis internacionais (segundo ele, de zero a 2% ao ano), mas o que não pode é ter um nível de 10%", avaliou o presidente do BC. Perigosíssimo Ele alertou que, reforçado pela memória inflacionária do País, a economia reagiria negativamente ao menor sinal sobre a possibilidade da volta da inflação. "Isso poderia até gerar algum alívio nos primeiros meses, mas depois seria perigosíssimo", afirmou Fraga, descartando qualquer benefício para o crescimento econômico em função de uma inflação mais elevada que os níveis atuais de 6% a 7%. "Não sejamos tão radicais que não se tenham alguma flexibilidade para os choques de oferta a que estamos submetidos, mas com responsabilidade", disse. O presidente do Banco Central voltou a defender o aumento da poupança interna, especialmente no atual momento em que o ajuste das contas externas leva a uma natural redução da poupança externa. "Para mantermos e até aumentarmos o nível de investimentos no País, é preciso uma melhor formação dessa poupança interna", disse Fraga, destacando a questão da governança e da transparência dos fundos de pensão e das empresas. "Parece claro que para atingir nossos potenciais de crescimento, hoje em torno de 4,5%, temos que cuidar dessa formação de poupança, sobretudo a interna", disse o presidente, defendendo o término da reforma previdenciária. Bancos sólidos Ele também defendeu o alargamento dos prazos nesse processo de formação de poupança, assim como também um maior prazo para os investimentos. Fraga ressaltou a necessidade da retomada da liquidez no mercado financeiro doméstico, que acredita que venha juntamente com o processo de recuperação da confiança no País, e lembrou que uma das grandes vantagens do Brasil está na solidez do seu sistema bancário. "Nossos bancos já passaram por testes de estresse reais. Não são balas de festim. Eles foram submetidos a muita volatilidade e o sistema continua fortalecido", afirmou. Sobre o setor externo, do qual elogiou o papel do câmbio flutuante como instrumento de ajuste, Fraga disse que o crédito externo deverá voltar com os sinais de manutenção de alguns alicerces que vêm sendo dados tanto pelo governo atual quanto pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Menos volatilidade O presidente do BC afirmou que será divulgado em breve um estudo feito pelo Banco Central que apontará uma queda na volatilidade do PIB, dos juros e da inflação nos últimos anos. "O estudo mostrará, inclusive, que o PIB e a inflação têm caminhado em direções contrárias, o que em boa parte pode ser explicado pelo ganho de credibilidade do regime de metas", afirmou. De acordo com ele, o estudo mostrará que o grau de inércia inflacionária no País vem caindo ao longo do tempo. E também que o repasse cambial para os preços vem registrando tendência de queda. FMI Fraga afirmou que os trabalhos de revisão do acordo com o FMI, em novembro, não serão tratados como se o novo governo já estivesse empossado e trabalhando. "Quando desenhamos este acordo, tínhamos como objetivo construir uma ponte para a travessia em que estamos", disse. Ele disse que o BC sabia que o acordo "seria aprimorado com aspectos qualitativos que se encaixassem nas propostas do novo governo eleito", mas destacou que não é intenção dele "tratar esta revisão como se o governo já estivesse empossado".

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