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Franceses não querem liberalizar comércio

Lei Macron amplia abertura do comércio aos domingos e reduz proteção a profissionais

Por ANDREI NETTO
Atualização:
Profissionais liberais, como arquitetos e advogados, médicos, dentistas, além de empregados dos setores do comércio e serviço, foram às ruas de Paris para protestar contra Lei Macron Foto: François Mori/AP

PARIS - Milhares de comerciários e de profissionais liberais da França protestaram ontem em Paris e no interior contra um projeto de lei que liberaliza o comércio aos domingos e os serviços prestados por dentistas, arquitetos, advogados, entre outros.

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A manifestação aconteceu no dia em que o governo da França apresentou ao Parlamento a chamada Lei Macron, que prevê a reforma de profissões regulamentadas, da Justiça do Trabalho e do comércio, franqueando às empresas da abertura de lojas aos domingos.

Em Paris, o protesto convocado por sindicatos reuniu profissionais de saúde, em sua maioria, mas também advogados, notários e oficiais de Justiça. "Nossas profissões foram insultadas, vilipendiadas", esbravejou o presidente do Conselho Superior do Notariado, Pierre-Luc Vogel, um dos líderes da manifestação. Em gritos de ordem, os manifestantes pediam a demissão do ministro da Economia, Emmanuel Macron, criticado como "liberal demais" para um governo socialista.

Ao fim do cortejo, uma delegação foi recebida pela ministra da Justiça, Christiane Taubira, e por Macron, mas as negociações agora se concentram no Parlamento, que votará o projeto em data ainda a ser fixada.

Retrocesso.

Pela manhã, o governo de François Hollande enviou o projeto ao Legislativo, apesar da rejeição de parte dos deputados do Partido Socialista (PS), maior da base de sustentação do chefe de Estado. A divergência foi impulsionada por uma das líderes socialistas, Martine Aubry, prefeita de Lille, ex-secretária-geral do PS e ex-ministra do Trabalho que criou a semana de 35 horas de trabalho. Em entrevista ao jornal Le Monde, Aubry classificou a Lei Macron como "um retrocesso".

As críticas geraram a reação do governo, que estima em 10 mil o número de postos de trabalho que podem ser criados imediatamente. As vagas seriam abertas pelo comércio, em especial em Paris, que passaria a concorrer com outras capitais europeias, em especial Londres, pelos turistas que viajam para consumir nos finais de semana.

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Para o primeiro-ministro, Manuel Valls, a ideia do projeto é "liberar o potencial inexplorado de crescimento e de atividade". "É uma lei de progresso e de liberdade, e ao dizê-lo, eu emprego as palavras do presidente da República", argumentou Valls.

Segundo o ministro da Economia, a lei é uma das reformas que visa a "devolver a vitalidade à economia francesa". "Essa lei serve ao interesse geral. Ela tem o objetivo de melhorar concreta e rapidamente a vida dos franceses", pregou.

O projeto, que faz parte das reformas empreendidas pelo governo socialista, terá impacto também sobre áreas como o transporte de passageiros e representa o grande teste da virada "social-liberal" do mandato de Hollande. A União Europeia saudou a iniciativa de Hollande, mas a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou em Berlim no domingo que espera reformas mais profundas da parte de Paris.

Uma nova manifestação foi convocada pelos sindicatos e será realizada ainda este mês.

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