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Fraude na Ahold é diferente do caso Enron, dizem analistas

Por Agencia Estado
Atualização:

A maioria dos analistas aponta mais diferenças do que semelhanças entre os casos da Enron, a companhia de energia que marcou o primeiro grande caso de fraude corporativa que abalou a confiança dos investidores nos EUA, e o grupo holandês Royal Ahold NV, que ontem admitiu erros contábeis que inflaram os lucros em mais de US$ 500 milhões nos dois últimos anos. A cadeia varejista holandesa, que no Brasil controla os supermercados Bompreço e G. Barbosa, possui negócios muito mais fortes que podem ser vendidos e seus auditores não estão na mesma situação dos da Enron, dizem os analistas. Segundo eles, a revolta entre os acionistas na Europa deve ser muito menor do que nos EUA, uma vez que a cultura acionária no continente é mais fraca do que nos EUA. Além disso, afirmam, a Europa não tem um governo central forte que possa aplicar normas duras, desencadeando uma reforma drástica nos princípios contábeis e de governança corporativa, originando uma legislação no estilo da Sarbanes-Oxley, adotada nos EUA. "A União Européia adota uma postura de progresso modesto, já que sabe como é difícil chegar a normas unificadas quando enfrenta 15 diferentes culturas corporativas e tradições jurídicas", disse Alasdair Murray, do Centro para a Reforma Européia. Depois de revelada a fraude na Enron, a concordata aconteceu em poucos meses. O grupo Ahold parece longe de um colapso total. A companhia tem milhares de supermercados e marcas fortes como Albert Heijn na Holanda e Stop & Shop nos EUA. Analistas da Merrill Lynch afirmam que, se quebrar, a Ahold pode valer ? 25 bilhões, ou ? 12 por ação. Isto se os ativos não forem vendidos a preço de liquidação. A origem do problema no Ahold contribui para amenizar a reação na Europa. A declaração de US$ 500 milhões a mais nos lucros se deveu à divisão norte-americana. O quanto a direção holandesa sabia a respeito e qual o grau de envolvimento na fraude se desconhece. Isto permitiu que observadores afirmassem que o real problema não foi na Europa, mas nos EUA. "Ainda não sabemos os detalhes. Mas se for verdade que os problemas se originaram na divisão norte-americana, então o caso é nos EUA", disse Marco Becht, diretor executivo do Instituto de Governança Corporativa em Bruxelas. Outra diferença diz respeito aos auditores. Enquanto a Arthur Andersen ajudou a Enron na fraude, os auditores do Ahold, Deloitte Touche Tomhatsu International, revelaram os problemas na divisão norte-americana. "O problema apareceu como resultado do trabalho correto dos auditores", disse Jonathan Todd, porta-voz da UE para assuntos do mercado interno.

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