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Fraude no Société Générale pode ter provocado corte pelo Fed?

Por SITARAMAN SHANKAR E BLAISE ROBINSON
Atualização:

O anúncio surpreendente de uma fraude de 7 bilhões de dólares no Société Générale deixou os investidores imaginando se há uma conexão entre o rombo e o terremoto no mercado europeu de ações na segunda-feira. A forte queda, que antecedeu o corte emergencial dos juros nos Estados Unidos, ocorreu ao mesmo tempo em que o Société tentava fechar posições montadas por um de seus operadores. O segundo maior banco da França divulgou nesta quinta-feira que foi vítima de uma enorme e "excepcional" fraude de um operador de baixo escalão, que resultou em perdas de 4,9 bilhões de euros. O banco anunciou também um grande aumento de capital. O Société afirmou que o operador, responsável por fazer o hedge das posições do banco no mercado europeu de ações, assumiu enormes posições fraudulentas em 2007 e 2008. O banco disse ter decidido fechar as posições o mais rápido possível quando a fraude foi descoberta, no final de semana de 19 e 20 de janeiro. Isso fornece outra visão da queda das ações européias na segunda-feira, 21 de janeiro. Nesse dia, mais de 350 bilhões de dólares em valor de mercado sumiram das principais ações britânicas, alemãs e francesas --montante equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) de Hungria e Grécia. O índice FTSEurofirst 300, referência do mercado europeu, caiu quase 6 por cento na segunda-feira, maior queda diária desde os ataques de 11 de setembro de 2001. No dia seguinte, o Federal Reserve apareceu com o corte surpresa de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros. A decisão tentava limitar a queda das ações norte-americanas na volta do feriado de Martin Luther King. "O enorme montante de futuros à venda pode ter sido uma das razões para a queda dos mercados em um precipício na segunda-feira, e talvez esse tenha sido um ingrediente para forçar o Fed a adiantar parte de seus cortes no juro", disse Andrew Bell, estrategista europeu da Rensburg Sheppard. Uma fonte do Fed disse que o banco central norte-americano não tinha conhecimento da fraude no Société Générale quando tomou a decisão sobre os juros, na segunda-feira. VOLUMES GIGANTES Dados da Reuters mostram que o volume dos futuros do índice alemão de ações DAX na segunda, terça e quarta-feira foi o maior em pelo menos cinco anos e duas vezes acima da média registrada neste mês, apesar do feriado nos Estados Unidos na segunda-feira. Rumores pipocaram na quarta-feira sobre uma baixa contábil pesada no Société Générale, e operadores disseram ser possível que isso seja por conta da desmontagem de posições maciças por parte do banco. O operador Rik Zwaneveid, da AFS Brokers em Amsterdã, disse: "Na quarta-feira havia a conversa de uma baixa contábil de 40 bilhões de euros no Société Générale. Com as notícias de hoje, um prejuízo de 5 bilhões de euros em 40 bilhões de euros em posições é algo possível", disse. L'Autorite des Marches Financiers (AMF), órgão regulador do mercado francês, se recusou a comentar a movimentação do Société Générale. GATILHO PARA UM CORTE NOS JUROS? O Federal Reserve reduziu em agosto a taxa de redesconto, usada para os empréstimos feitos diretamente aos bancos, logo após o BNP Paribas, outro banco francês, assustar os investidores com o congelamento, por problemas no setor de hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos, de 1,6 bilhão de euros em fundos. Operadores especulam que, dessa vez, os problemas do Société Générale tiveram o mesmo papel em catalisar a decisão do Fed. Um operador de crédito na Alemanha disse: "Isso traz a pergunta agora: o Fed cortou as taxas por causa de um operador mal-intencionado no Société Générale, que teve que fechar uma posição enorme e mandou o mercado para uma tempestade?" (Reportagem de Sitaraman Shankar, Blaise Robinson, Natalie Harrison e Gilbert Kreijger)

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