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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Freada na economia, talvez nem tanto

Pessimismo toma conta da maioria das análises sobre os rumos da economia global para este ano por conta dos recentes desempenhos da China e dos Estados Unidos

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Atualização:

Os analistas começaram o ano animados. Previam boa recuperação da atividade econômica, mas, desde março, bandearam para previsões sombrias. É possível que estejam pessimistas demais e que se tenham alarmado com duas incógnitas da equação que envolvem as principais locomotivas da economia global: a dos Estados Unidos e a da China

Foram três os fatores que empurraram os analistas para o mais sombrio: a inflação global e, a partir daí, a reação dos grandes bancos centrais; as consequências imediatas da guerra na Ucrânia; e a brecada acionada pelo governo chinês para conter a nova onda de covid-19

Rua de Xangai completamente vazia em decorrência da política de tolerância zero contra a covid-19 do governo chinês. A paralisação da produção em grandes centros econômicos da China deve pressionar ainda mais a inflação mundial. Foto: Aly Song/Reuters 

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Em abril, a inflação anual chegou a 8,3% nos Estados Unidos e a 7,4% na zona do euro. Vem sendo puxada pela disparada do petróleo, de 48,7% no primeiro quadrimestre; pela alta dos alimentos, principalmente trigo; e pelo forte consumo nos Estados Unidos.

A inflação se espalha e os grandes bancos centrais aumentaram os juros para esfriar a atividade econômica. O presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, chegou a advertir que não se pode assegurar pouso suave da economia americana. 

Além de provocar novas disparadas nos preços do petróleo e dos alimentos, a guerra contribuiu para intensificar a desorganização das cadeias de produção e distribuição. O governo da China paralisou a produção em Xangai e Pequim, para contra-atacar o alastramento da pandemia. 

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A partir deste cenário, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as projeções do crescimento global do ano, de 4,4% para 3,6%, mas o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que trabalha para os bancos, passou a contar com avanço do PIB global de 2,2% .

Não há indicação de fim da guerra. Entre as lideranças europeias cresce a apreensão do que possa de ruim acontecer na Rússia se o desfecho vier a ser mais favorável à Ucrânia. A depender de que essa percepção se acentue, os chefes de governo do bloco podem conter a ajuda que vêm dando à Ucrânia e/ou reduzir as sanções à Rússia. 

Nos Estados Unidos, não ficou claro até que ponto a inflação e a alta dos juros poderão conter o avanço do PIB. O consumo continua voraz e o desemprego vive baixas históricas, de 3,6% em março. Para cada desempregado há duas vagas de trabalho não preenchidas. 

A incógnita mais sensível é a China. As medidas de lockdown começam a ser abrandadas. Nesta sexta-feira, o Banco do Povo da China (banco central) afrouxou os juros de longo prazo para catapultar o investimento e a construção civil. As projeções de um avanço do PIB da China em 2022, de apenas 3,5%, podem não se confirmar e, nesse caso, a segunda maior economia do mundo pode voltar a liderar o crescimento global, com novo impacto sobre a demanda de petróleo e commodities.

Tudo a confirmar. 

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*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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