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Fred Gelli, um dos mais criativos do mundo

Brasileiro que criou a marca dos jogos olímpicos do Rio está na lista da 'Fast Company'

Por Naiana Oscar
Atualização:

O designer Fred Gelli sempre acreditou em coisas estranhas. Ele mesmo diz isso, quando faz um balanço de sua trajetória profissional nos últimos 25 anos. Teve de resistir ao rótulo de 'ecochato' e 'maluco' numa época em que falar de sustentabilidade estava longe de ser um clichê dentro do mundo dos negócios como é hoje. Ainda como estudante de design da PUC-RJ, em 1987, ele decidiu estudar as embalagens da natureza - "como a barriga de uma mulher grávida, a atmosfera, as frutas...", explica - para criar sua própria empresa de embalagens ecologicamente sustentáveis. Começou em casa fazendo pastas de papelão, porta-lápis, agendas e ouvindo não de muita gente. Depois de mais de 100 prêmios no currículo e de ter conquistado clientes como Natura, P&G e Coca-Cola, esse brasileiro de Petrópolis, que diz ter a natureza como "oráculo" e considerar Deus um "cara muito gente boa porque não cobra direitos autorais", foi escolhido pela revista americana Fast Company como uma das 100 pessoas mais criativas no mundo dos negócios. "Acreditamos que as marcas são mais do que vendedoras, elas são protagonistas e devem gerar valor na vida das pessoas", diz Gelli, fundador da agência Tátil Design de Ideias e professor da PUC-RJ. Ele ganhou visibilidade em 2011, quando sua agência venceu uma concorrência disputadíssima, que envolveu 139 empresas, para desenvolver as marcas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, no Rio. "Esse com certeza foi o trabalho mais importante da minha vida", afirma o designer. "E está diretamente relacionado ao fato de eu ter sido indicado na lista da Fast Company." O designer acredita que a logomarca dos Jogos Olímpicos vai atingir mais de 4 bilhões de pessoas no mundo. Na ocasião do lançamento, o comitê organizador do evento disse que pretendia arrecadar cerca de R$ 3 bilhões com a exploração da marca desenvolvida pela Tátil. A logomarca, tridimensional, apresenta três pessoas de braços dados em movimento. "Foi um processo criativo que envolveu todos os funcionários da agência, da faxineira aos sócios", conta. "Tínhamos de atender aos critérios da organização e, ao mesmo tempo, passar uma mensagem compreensível para todos que tivessem contato com a marca." O resultado do trabalho de Gelli gerou polêmica na época. A logomarca foi comparada à obra "A Dança", do pintor francês Henri Matisse, e a agência, acusada de plágio pela ONG americana Telluride Foundation - acusação que não foi aceita pelo comitê organizador dos jogos. Reconhecimento. Gellis não só desenvolveu a logomarca como foi convidado para dirigir, com o artista plástico Vik Muniz, a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. E três anos depois da polêmica, a marca do evento o levou para o ranking dos mais criativos do mundo, divulgado anualmente pela Fast Company, uma das mais conceituadas publicações de tecnologia e negócios do mundo. A lista só será divulgada na semana que vem e ainda está sob sigilo. Mas o Estado apurou que, além de Gelli, outro brasileiro figura no ranking: Mario Queiroz, diretor de produtos e plataformas do Google desde 2005. Aos 48 anos, ele trabalha na sede da companhia, no Vale do Silício, e é responsável por produtos como o Chromecast, aparelho que permite conectar aparelhos de TV à internet. Na lista do ano passado, que tinha nomes como o do ator Bryan Cranston - protagonista da série americana Breaking Bad - não havia brasileiros, embora o País tradicionalmente marque presença no ranking. Em 2010, a revista reconheceu como brasileiros mais criativos o cantor Gilberto Gil e a publicitária Alessandra Lariu, que na época era diretora de criação do grupo digital na agência de publicidade Creative McCann e cofundadora da "SheSays", organização que ajuda a inserir mulheres no mercado publicitário online. No ranking de 2012, quatro brasileiros apareceram no ranking: Flávio Pripas e Renato Steinberg, cofundadores da startup de moda Fashion.me; Carla Schmitzberger, diretora da unidade de sandálias da Alpargatas e número um da Havaianas; e Lourenço Bustani, um dos fundadores da consultoria de inovação Mandalah. Entre a lista de 2012 e a deste ano, os editores da Fast Company conseguiram um feito curioso. Bustani e Gelli são primos distantes e, em alguns projetos, parceiros de negócios. Os dois já desenvolveram alguns trabalhos em conjunto para a Natura, como as embalagens sustentáveis da linha Sou. "Foi uma grande coincidência", diz Gelli. Coincidência que o DNA da família ajuda a entender. O avô de Gelli, irmão da avó de Bustani, era um marceneiro de mão cheia e designer por intuição. É dele a primeira cadeira patenteada do País - peça que fica na sala do fundador da Tátil, para servir de inspiração.

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