PUBLICIDADE

Publicidade

Funcionário da Petrobras é suspeito de vazar informações

Ele teve sua conta bloqueada na sexta-feira, dia 21, e pode ter sido afastado

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos supostos beneficiados por lucros obtidos em bolsa de valores com uso de informação privilegiada da venda do grupo Ipiranga para o consórcio Petrobras/Ultra/Braskem é funcionário de carreira da estatal e ocupava cargo de gerente executivo na BR Distribuidora. As investigações correm sob sigilo de Justiça. Por isso, ainda não há confirmação oficial sobre a participação do executivo, responsável pelo segmento de distribuição de querosene de aviação. Rumores na estatal e de fontes do setor apontam, porém, que o funcionário teria ganho em torno de R$ 900 mil com o investimento, feito nos dias 13 e 14 de março, quando as ações ainda apresentavam um preço menor. Os papéis teriam sido vendidos logo após a confirmação da compra, no dia 19, com as ações já valorizadas. O ganho, portanto, teria sido obtido com a alta do preço das ações provocada pelo anúncio da operação. O gerente, que estava cedido pela Petrobras à sua subsidiária de distribuição de combustíveis, havia ocupado anteriormente a gerência de Produtos Químicos, responsável pela venda e distribuição de insumos e serviços para a indústria química e petroquímica. O presidente da CVM, Marcelo Trindade, recusou-se nesta segunda-feira a confirmar a identidade do suspeito. "Não vamos tratar sobre especulações", desconversou, alegando segredo de Justiça. A autarquia, em operação conjunta com o Ministério Público Federal, já conseguiu o bloqueio de quatro contas sob suspeição e não descarta novas medidas semelhantes. Os investimentos feitos em bolsa, antes do resgate, passam por um período de depósito na Câmara de Liquidação e Custódia da Bovespa. No início da noite, pouco antes de embarcar para São Paulo, onde participaria de um programa de TV, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, recusou-se a comentar o assunto. O executivo demonstrou contrariedade ao ser abordado pela reportagem do Estado no aeroporto Santos Dumont. Na sexta-feira, por meio de sua assessoria de imprensa, Gabrielli afirmara que a comprovação de participação de qualquer funcionário da companhia no episódio levaria a uma "punição exemplar". No mesmo dia, a empresa anunciou a criação de uma comissão de sindicância para apurar as denúncias da CVM. A comissão reuniu-se pela primeira vez nesta segunda-feira, mas a companhia não quis comentar o resultado do encontro. Já a CVM estipulou o prazo de 90 dias para finalizar as investigações e enviar o caso à Justiça. Se comprovado o uso de informação privilegiada, os acusados estarão sujeitos a até cinco anos de prisão. Investigação O funcionário da Petrobras é apenas um dentre os 26 investidores - pessoas físicas e jurídicas - investigados pela CVM no caso. O que chamou a atenção da CVM e do mercado sobre um possível vazamento de informações foi o volume de ações do Grupo Ipiranga negociadas na semana que antecedeu o anúncio da venda. Entre os dias 12 e 16 deste mês, foram negociados R$ 24 milhões em ações ordinárias. É mais do que o dobro do volume negociado nos três meses anteriores, entre 2 de janeiro e 9 de março: R$ 11,6 milhões. A mudança de média diária dá a dimensão do salto: de R$ 290 mil, em três meses, para R$ 4,8 milhões na última semana. Na quinta-feira, 22, foram bloqueados R$ 4 milhões de contas de um fundo sediado em Delaware, nos Estados Unidos, e de uma pessoa física. Na sexta-feira, dia 23, o outro suspeito apontado foi um cliente de uma corretora, que nos dias 14 e 15 de março comprou papéis ordinários da Refinaria Ipiranga e depois vendeu todas ações em 20 de março. Com esta operação, o investidor teve um ganho de 38% sobre o valor aplicado. Segundo a CVM, a própria corretora avisou a autarquia sobre a suspeita de uso de informação privilegiada no negócio. O total bloqueado é de R$ 860 mil. Negócio Petrobras, Braskem e o Grupo Ultra oficializaram na segunda-feira, dia 19, a compra do Grupo Ipiranga, em negócio de valor estimado em aproximadamente US$ 4 bilhões. O negócio envolve a Refinaria de Petróleo Ipiranga (RPI), a Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga (DPPI) e a Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga (CBPI). Pelos termos do negócio, o Grupo Ultra ficará com a rede de distribuição de combustíveis do Grupo Ipiranga nas regiões Sul e Sudeste e continuará operando com a marca Ipiranga. A Petrobras assumirá a rede de distribuição da Ipiranga no Norte, Nordeste e Centro-Oeste e terá até cinco anos para uso da marca Ipiranga, período em que será substituída gradualmente pela marca Petrobras Distribuidora. No setor petroquímico, a Braskem passará a deter 60% dos ativos do Grupo Ipiranga no segmento e reforçará sua posição de controle na Copesul. A Petrobras terá a fatia restante de 40%. Em refino, as operações da Ipiranga no Rio Grande do Sul serão controladas, em partes iguais, pela Petrobras, pelo Grupo Ultra e pela Braskem, que se comprometem a dar continuidade às atividades.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.