Rio - O fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, com US$ 1 trilhão em ativos, decidiu excluir a Vale e a Eletrobras de sua carteira de investimentos. A decisão do conselho executivo do Norges Bank, o banco central norueguês, gestor do fundo, levou em conta o risco de que as companhias contribuam para danos ambientais e violações aos direitos humanos.
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Norges Bank justifica a exclusão da Eletrobras por um “risco inaceitável” da companhia do setor elétrico contribuir para sérias e sistemáticas violações de direitos humanos. O comunicado menciona especificamente problemas no desenvolvimento da usina de Belo Monte.
Já a exclusão da Vale foi recomendada pelo conselho de ética do fundo, em função dos repetidos rompimentos de barragens da mineradora no Brasil. O desastre com a barragem I, em Brumadinho, Minas, em janeiro de 2019, deixou 270 mortos. A tragédia ocorreu pouco mais de três anos após a ruptura da barragem da Samarco, empresa em que a Vale é sócia da BHP Billiton.
A mineradora brasileira já enfrentou a reação de outros investidores pelo mesmo motivo. O britânico Church of England se desfez das ações da mineradora após Brumadinho, o megafundo de pensão californiano Calpers, com portfólio de US$ 402 bilhões, vendeu todos os bonds (títulos de dívida) da companhia e a gestora holandesa Robeco pôs a Vale em uma lista de empresas com restrições de investimento.
Além das brasileiras, outras dez companhias também foram excluídas do portfólio do fundo. A lista inclui outras gigantes do setor de commodities como Glencore e Anglo American, além das empresas de energia Cenovus Energy , Suncor Energy e Imperial Oil, limadas por gerarem emissões de gases em nível elevado.
O anúncio do Norske Bank ocorre no mesmo dia em que a Vale comunicou ao mercado que planeja investir US$ 2 bilhões em projetos de energia renovável para reduzir em 33% as emissões, diretas e indiretas, de CO² até 2030. A mineradora espera se tornar uma empresa zero emissões líquidas até 2050.
Procurada, a Vale não quis comentar.
Já a Eletrobrás afirmou, em nota, que respondeu todos os questionamentos feitos pelo fundo, e que "sempre se colocou à disposição para esclarecer as dúvidas apresentadas".
De acordo com a Eletrobras, "a empresa tem tomado importantes passos estratégicos para fortalecer ainda mais seus compromissos e práticas de Direitos Humanos", e elencou uma série de compromissos firmados para 2021 e 2022.
Entre as metas, a empresa indicou a realização de "due diligence" em Direitos Humanos de 100% das Sociedades de Propósitos Especiais (SPEs) até 2022, "o que inclui avaliar e acompanhar compromissos e práticas da SPE Norte Energia, da UHE Belo Monte".
Segundo a Eletrobrás, diretrizes temáticas de Direitos Humanos foram incluídas na Política de Responsabilidade Social das Empresas Eletrobrás em 2018.
"Esses compromissos estratégicos estão contribuindo decisivamente para prevenir e resolver incidentes relativos a Direitos Humanos e atividades da Eletrobrás. Seus resultados estão sendo periodicamente reportados no site e no Relatório Anual da empresa. O trabalho sobre Direitos Humanos está estruturado e passa por ajustes e melhorias continuamente", afirmou a companhia.informou que seu departamento Financeiro já está preparando uma resposta sobre o tema.