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Fundo Soberano já perdeu mais de R$ 2 bi este ano

Aplicações em ações da Petrobrás e do Banco do Brasil provocaram queda no valor da carteira, que era de R$ 18,76 bi em dezembro e está em R$ 16,48 bi

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes , Fabio Graner e BRASÍLIA
Atualização:

O governo já perdeu neste ano mais de R$ 2 bilhões com as malsucedidas aplicações do Fundo Soberano do Brasil (FSB), a poupança fiscal criada para enfrentar dificuldades econômicas. O prejuízo ocorreu porque o governo deixou de seguir regras básicas do bom investidor, como diversificar aplicações e não concentrar demais o dinheiro em ativos de alto risco. No jogo contábil para alavancar o superávit primário (economia para pagamento de juros) em 2010, o Tesouro Nacional acabou colocando mais de 75% dos recursos do FSB em ações da Petrobrás. Esses papéis estão caindo fortemente neste ano - assim como o mercado acionário em geral. O Fundo também perde dinheiro com as ações que adquiriu do Banco do Brasil. O governo optou em usar o FSB na capitalização da Petrobrás em 2010 para aumentar a participação da União no capital da empresa e também receber, de imediato, recursos para reforçar o superávit primário. Por isso, não é exagero dizer que o FSB se tornou um fundo de investimento de alto risco. Além das perdas com a atual queda do mercado acionário, o governo teria dificuldade de vender todo esse volume de ações no caso de uma necessidade maior de recursos, se o cenário externo piorar. Liquidez. Um movimento de venda de um lote tão grande de ações só faria os preços caírem mais, acentuando o prejuízo. Ou seja, o dinheiro depositado no Fundo não garante liquidez imediata. Dessa forma, o FSB perdeu o seu sentido original, de instrumento de política fiscal anticíclica, apregoado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na época de sua criação. A maioria dos fundos soberanos aplica seus recursos em ativos que têm baixa correlação com o desempenho econômico do país. Esse é um tipo de prevenção para evitar que não haja perda de rentabilidade dos recursos aplicados. Em dezembro do ano passado, o total da carteira do Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE) - onde está aplicado todo o dinheiro do FSB - estava em R$ 18,76 bilhões. No fim do primeiro semestre, a carteira já tinha caído para R$ 16,9 bilhões. Em julho, até o dia 22 (último disponível), as perdas continuaram e a carteira do fundo caiu para R$ 16,48 bilhões. Até agosto do ano passado, o FFIE tinha apenas 10% de seus recursos alocados em ações - do Banco do Brasil. Na ocasião, cerca de 86% da poupança fiscal estava alocada em títulos públicos, ativos praticamente sem risco. Risco. O economista e especialista em contas públicas da Tendências Consultoria, Felipe Salto, considera que a exposição do Fundo a ações, ainda que de uma empresa forte, é muito arriscado e subverte o sentido de reserva. Segundo ele, a perda com a desvalorização das ações na carteira do Fundo é um custo fiscal que seria suficiente para mais de um mês de recursos para o Bolsa Família. "Faltou um objetivo claro para este dinheiro. Por que a sociedade tem de arcar com esse custo de R$ 2 bi?", questionou. Procurado pela reportagem do Estado, o Ministério da Fazenda não quis comentar o prejuízo do FSB.

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